Para prevenir os problemas provocados pelas chuvas - que só em São Paulo já mataram 43 pessoas de dezembro até dia 8 - o remédio continua a ser o planejamento. Em entrevista esta semana à Agência Brasil, o geólogo, pesquisador e diretor adjunto do Instituto Geológico (IG), vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Paulo César Fernandes da Silva, ressaltou que “uma ação contínua de planejamento e de ordenamento territorial”, apesar das falhas históricas, poderia prevenir algumas das tragédias ocorridas neste verão brasileiro.
“Os municípios tem que tomar conta do uso de seu solo e da ordenação do seu território”, disse Silva. Esse planejamento, segundo ele, passaria pelas cartas geotécnicas e pelo mapeamento das regiões, com a especificação do tipo de solo e de ocupação.
Silva reconhece que a culpa pela falta de planejamento não pode ser creditada apenas aos governos atuais. “Não é que faltou planejamento em São Luiz do Paraitinga [cidade paulista que sofreu com o problema das chuvas e viu muito de seu patrimônio histórico ser perdido por causa das enchentes]. A ausência de planejamento é cultural. O que estamos vendo é que, onde há o evento, a circunstância instalada, a falta de planejamento fica mais evidente”, afirmou.
Desde o primeiro dia deste ano, quando as chuvas provocaram estragos e mortes em várias cidades de São Paulo, principalmente nas localizadas no Vale do Paraíba, o Instituto Geológico enviou técnicos para avaliar os deslizamentos de terra e alertar sobre a necessidade de remoção de famílias que vivem em áreas de risco.
Desde outubro do ano passado, técnicos do instituto vêm levantando dados sobre a bacia do Rio Paraíba do Sul, rio que dá nome ao Vale do Paraíba, para tentar mapear áreas de risco na região.
“Fizemos um levantamento em jornais de 1970 até o ano passado. E temos cadastrado 1,5 mil ocorrências, mais ou menos, de enchentes e inundações ao longo de toda essa bacia hidrográfica que envolve o Vale do Paraíba”, revelou o pesquisador. Nesta análise preliminar, segundo ele, foi possível perceber que em 1983 esta região também sofreu muito com as chuvas, como efeito do El Niño.
“Ao que tudo indica, os fenômenos atmosféricos estão recrudescendo, ou seja, estão ficando mais severos”, afirmou. De acordo com Silva, ainda não é possível dizer com certeza o que pode estar motivando a natureza, mas uma série de fatores deve ser considerado como o aumento da emissão de gás carbônico e de outros gases decorrentes da industrialização e o abatimento de vegetações
(Digital ABC, 11/01/2010)