A antiga e abandonada fachada do Estaleiro Só, no bairro Cristal, na zona Sul de Porto Alegre, não existe mais. Desde o início da manhã de sábado, máquinas da Construtora e Pavimentadora PFC iniciaram a demolição da estrutura, mudando a paisagem da orla do Guaíba. De acordo com operários, o trabalho de limpeza e preparação do terreno começou há quase um mês, mas foi a queda das paredes dos galpões do velho estaleiro que revelou o trabalho à população.
O terreno pertence à BM Par Empreendimentos. O destino da área foi alvo de consulta popular no ano passado. No dia 23 de agosto, dos 22,6 mil porto-alegrenses que foram às urnas (o voto era facultativo), 18,2 mil decidiram que a área não poderia servir para abrigar também prédios residenciais. O desejo popular foi confirmado no Plano Diretor, que permite apenas a construção de estruturas com uso comercial.
Fundada em 1850, a empresa produziu ferros, sinos para igrejas, tachos de cobre e, durante a Guerra do Paraguai, forneceu bocais, estribos e cornetas para o Exército. Nesse período, parece ter se desenhado a vocação da empresa, que também passou a fazer reparos na frota naval da Marinha brasileira. Seu apogeu foi durante a década de 70, quando já se chamava Estaleiro Só e estava no endereço onde hoje já não resta nada. Produziu mais de 170 embarcações, cerca de 30 modelos de navios, entre eles ferry-boats, navios-tanque, baleeiras, rebocadores, iates e pesqueiros.
Os anos 80, no entanto, foram implacáveis com o setor naval no Brasil, principalmente devido à falta de financiamentos. O Estaleiro Só iniciou a diversificação de atividades, incluindo fabricação e pré-montagem de caldeiraria. A iniciativa não foi suficiente para manter a empresa, desativada em 1995.
Como era a empresa
O Estaleiro Só, que ocupava mais de 50 mil m², operou até 1995. Fundado em 1850, foi a primeira ferraria e fundição da Capital, estabelecida na Uruguai com a praça Montevidéu. Chamou-se Só e Filhos e Só e Cia. e mudou várias vezes de endereço.
(Correio do Povo, 11/01/2010)