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bicicletas produtos ecológicos
2010-01-11 | Julianaf

Fibra de carbono e alumínio são coisas do passado. A bicicleta do momento é feita de bambu e fibra de maconha. Uma nova geração de fabricantes estão apresentando o meio de transporte mais ecológico do momento. Além de serem mais leves, fortes e confortáveis, essas bicicletas também deixam uma pegada de carbono muito menor

Craig Calfree é conhecido como o mestre zen dos fabricantes de bicicletas de bambu. Em sua oficina na costa da Califórnia, a apenas alguns metros das agitadas ondas do oceano Pacífico, o designer de quadros de bicicleta constrói bicicletas de tirar o fôlego feitas dessa planta que cresce tão rápido, o maior membro da família da gramíneas.

No entanto, o americano, que ficou conhecido por fazer bicicletas a partir de material vegetal, tem alguns concorrentes. O número de especialistas que fazem bicicletas a partir de matérias-primas recicláveis está crescendo. Brano Meres, um engenheiro eslovaco, e o ciclista profissional californiano Nick Frey estão entre eles. O engenheiro alemão Nicolas Meyer também está trabalhando nessa linha, mas não com bambu. Ao invés de usar esse material, ele construiu uma bicicleta para triatlo feita de fibra de maconha.

Mas Calfee é o mais experiente entre todos da nova geração. Antes de começar essa nova empreitada, ele já era conhecido há muito tempo por construir bicicletas de elite, foi um dos pioneiros no uso da fibra de carbono e fez modelos especiais para ciclistas como Greg LeMond, tricampeão da Volta da França. Em meados dos anos 1990, começou a procurar uma ideia que atraísse a atenção dos visitantes de uma feira de bicicletas. Mas ele queria algo mais do que apenas uma boa ideia. Ele queria alguma coisa que fizesse o público vir a seu estande e ficar hipnotizado.

Na verdade, foi seu cachorro quem lhe deu a ideia. O cão, fruto do cruzamento de pitbull e labrador, pegou um pedaço de bambu enquanto brincava. Quando o cão o soltou, Calfee pegou o bambu e percebeu que ele estava praticamente intacto. Um material incrível. Ele achou a ideia empolgante. Havia encontrado o que procurava: a bicicleta que estava construindo para a feira teria um quadro feito de bambu.

As bicicletas de bambu são muito mais macias

O bambu nasce em todos os continentes do planeta, incluindo a América do Norte, e assim Calfee utilizou um bambu californiano para o novo protótipo. O quadro era um pouco flexível demais mas cumpriu sua missão principal: chamar muita atenção.

Após a feira, Calfee voltou para sua oficina e começou a fazer experiências de verdade com o material. Por mais ecológico e resistente que seja, ele também tem suas falhas. Uma das maiores desvantagens era que ele rachava no meio com facilidade. Para resolver o problema, Calfee defumou o bambu e o temperou com calor. (Hoje em dia, a planta passa por um processo que dura quatro meses antes que possa ser utilizado.) Ele também envolveu as fibras de maconha e de bambu com resina epóxi e as utilizou para unir os tubos de bambu.

Cerca de cem quadros mais tarde, Calfee finalmente havia construído uma bicicleta em que confiava. Seu veredicto: o quadro feito de bambu absorve as vibrações muito melhor do que o de fibra de carbono. "As bicicletas de bambu proporcionam um pedalar mais suave", afirma.

Ele também descobriu que a bicicleta tem uma incrível resistência a impactos, é mais forte que a de fibra de carbono e menos sujeita a quebras. Esses resultados foram confirmados depois que os quadros foram testados no laboratório de testes de bicicletas EFBe na Alemanha. Mas toda essa resistência tem um preço - um quadro de mountain bike feito de bambu custa certa de US$ 2.700 (R$ 4.700).

Enquanto isso, Calfee também ganhou vários prêmios com suas bicicletas de bambu. "Best Road Bike", "Best Off-Road Bike" e o prêmio do público da Feira Americana de Bicicletas Artesanais estão entre eles. Ele mesmo diz em seu site que se houvesse um prêmio para a bicicleta com a menor pegada de carbono, uma de suas criações o ganharia "sem as mãos".

Em direção às nações em desenvolvimento

Mas você se engana se pensa que tais meios de transporte são exclusivos dos endinheirados californianos com consciência ambiental. Calfee achou uma área de atuação completamente nova para as suas bicicletas de bambu: a África.

"Em países em desenvolvimento, as bicicletas são muito importantes para o transporte de bens e para ir à escola ou ao mercado", ele diz. E a maior vantagem das bicicletas de bambu sobre as de aço é que a matéria-prima cresce bem ali.

Calfee fundou a Bomboosera, uma iniciativa apoiada, entre outros, pelo Instituto da Terra da Universidade de Columbia, que apoia o desenvolvimento sustentável em benefício dos pobres de todo o mundo. O projeto quer ensinar os habitantes de países em desenvolvimento a fazer suas próprias bicicletas com o objetivo final de talvez abrir um negócio próprio.

Em fevereiro de 2008, Calfee ensinou o básico sobre a construção de quadros de bicicleta a três grupos em Gana. Agora há vários projetos em andamento no país. E outros estão sendo planejados, de Uganda e Libéria às Filipinas e Nova Zelândia.

E seus projetos mais recentes são ainda mais ambiciosos: um ônibus escolar em forma de bicicleta. A ideia é que as bicicletas tenham um adulto na direção e seis ou sete crianças a bordo - e todo mundo precisa pedalar.

A nova geração de fabricantes

De volta aos Estados Unidos, Calfee tem Nick Frey, um engenheiro formado em Princenton e campeão de ciclismo, como concorrente. Durante seus estudos, Frey passou dois anos desenvolvendo seus próprios quadros de bambu e montou uma empresa junto com quatro colegas de engenharia, a Boo Bicycles no Colorado, também especializada em fabricar bicicletas de bambu.

Outros países também estão começando a entrar em ação. A empresa dinamarquesa de design Biomega, que exibe uma "cultura corporativa responsável", faz lindas bicicletas de bambu e tem um projeto em andamento na Universidade Técnica de Berlim para desenvolver bicicletas similares chamadas Berlin Bamboo Bikes. O projeto do engenheiro Nicolas Meyer está sediado em Osnabruck, no estado alemão da Baixa Saxônia. Meyer deu um passo adiante e criou uma das primeira bicicletas feitas de canabis.

Em 2008, ele fundou sua companhia, a Onyx Composites, especializada em pequenos projetos de construção e no uso de matérias-primas sustentável. Mas como parte de seu trabalho mais criativo - e sua necessidade de ter novas bicicletas de triatlo - Meyer criou o protótipo de uma bicicleta feita principalmente de canabis e bambu. Isso, e seus outros trabalhos, o fizeram ganhar o prêmio de "Melhor Novo Negócio de 2009" em Osnabruck em agosto do ano passado.

Protótipos de canabis com bambu da floricultura

A mistura de matérias-primas que Meyer faz é particularmente interessante. Ele consegue a canabis em uma loja de maconha e o bambu vem da floricultura. "60% de maconha, 15% de bambu e o resto é carbono e alumínio", ele explica. Para fazer a bicicleta, Meyer mergulha as fibras de canabis em uma resina térmica de epóxi e depois as enrola em torno de um quadro feito de poliestireno extrudido. E esses materiais explicam a aparência um pouco estranha do quadro. "Se você quiser entender o quadro, imagine uma série de tiras da maconha", diz Meyer.

As tiras suportam muito peso. Mas se curvam sob pressão. Para garantir que o suporte do selim, que é feito com dois tubos, não curve e perca a forma, há uma tira branca de três centímetros ao redor dos tubos.

E como os tubos que formam a bicicleta medem entre 3,5 e 10 centímetros de diâmetro, essa bicicleta é muito mais resistente do que qualquer modelo de fibra de carbono e até de bambu. Quanto maiores os tubos, mais rígida a bicicleta. Mas isso não torna o quadro da bicicleta mais pesado. Ele ainda pesa cerca de 1,4 kg, aproximadamente o mesmo que um bom quadro de alumínio.

"Uma bicicleta de triatlo nunca é confortável", admite Meyer - mesmo que a bicicleta de maconha pareça muito mais confortável e alivie as vibrações muito melhor do que seu antigo quadro. Mas isso não parece um feito muito difícil de alcançar - sua antiga bicicleta tinha 30 anos e era feita de aço.

(Por Andrea Reidl, Der Spiegel / UOL, 10/01/2010)

*Tradução: Eloise De Vylder


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