Cidade está cercada por rios e áreas de floresta, explica veterinário. Muitos bichos acabam indo parar no Museu Emílio Goeldi
Cercada de rios e florestas, a capital paraense comumente recebe a visita de animais silvestres dos arredores, muitos dos quais acabam sendo capturados ou viram vítimas de maus-tratos. Parte deles acaba indo parar no parque zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, fundado em 1895, um dos mais antigos do país.
O veterinário Messias Costa, que trabalha na instituição, destaca que muitos moradores ainda levam animais que encontram pela cidade ao museu, apesar de já não estar autorizado a recebê-los – este serviço fica a cargo do Ibama local. “Relutamos em receber, exceto nos finais de semana e feriados, quando o Ibama não funciona”, explica.
“Belém é uma cidade rodeada por água por quase todos os lados e tem canais que a cortam”, explica Costa. “Não é incomum sucuris terem acesso a áreas urbanas ou aves da floresta em volta visitarem a cidade”. Ele aponta que nas áreas de desmatamento próximas da capital também não é raro encontrar mamíferos como preguiças e tamanduás.
O Museu Goeldi atualmente recebe cerca de dez animais trazidos por moradores a cada mês, muito menos do que recebia no passado, quando esta atribuição ainda não era do Ibama.
Ao todo, metade dos bichos recebidos são aves, muitas delas aquáticas, como as garças. “Elas chegam apedrejadas ou com tiros”, explica o veterinário. A maioria não sobrevive. Outros 40% dos animais que chegam ao Goeldi são répteis, principalmente sucuris, que entram na cidade pelos canais. As cobras igualmente são alvo de vandalismo, destaca o veterinário. “A cobra ainda carrega o estigma de ser um animal mau, quando tem um papel ecológico muito interessante”, comenta. Também chegam quelônios, como a tartaruga-da-Amazônia. Os 10% restantes, segundo calcula Costa, são de mamíferos.
O veterinário destaca que são comuns os problemas relacionados aos animais criados em cativeiro de forma inadequada. Uma onça que come só carne, por exemplo, não tem alimentação balanceada e acaba com raquitismo. “Na natureza ela come as presas inteiras, tem o cálcio dos ossos, as vitaminas do sangue”, explica.
(Dennis Barbosa, Globo Amazônia, 10/01/2010)