Ele nem parece bicho de carne e osso, mas o diminuto e praticamente desconhecido tamanduaí sobrevive em matas brasileiras na Amazônia e na Mata Atlântica nordestina, locais onde raramente é avistado. Com hábitos noturnos, cerca de 300 gramas, dez centímetros de corpo e até trinta se contada a cauda, a espécie (Cyclopes didactylus) é a menor das quatro que existem no mundo, três delas no Brasil.
No país, há registros do mamífero na região Norte e estados do Nordeste como Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Piauí e Maranhão, onde já está ameaçado pelo desmatamento e fragmentação das florestas. Assim como ocorre com o macaco-guigó, como mostrou O Eco em abril do ano passado.
As únicas baterias de estudos sobre o tamanduaí em liberdade avaliam a distribuição de populações na reserva biológica do rio Trombetas, no município paraense de Oriximiná, e também sua ocorrência e genética em matas nordestinas. O material é analisado na Universidade Federal de Minas Gerais. “As populações nordestina a amazônica estão afastadas pela faixa de Caatinga entre os dois biomas”, explica a responsável técnica pelo projeto, Flávia Miranda, da Wildlife Conservation Society.
Segundo a médica veterinária, que realiza doutorado pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), em até quatro anos será possível afirmar se os tamanduaís da Amazônia e da Mata Atlântica são espécies realmente diferentes. Os da região Norte apresentam pelagem mais escura. Já os hábitos alimentares de ambos os grupos são semelhantes a de seus parentes (quadro abaixo), os tamanduás bandeira, mirim e mexicano: formigas e cupins. Flávia e outros três pesquisadores publicam este mês o primeiro artigo sobre os hábitos alimentares do tamanduaí.
Conforme ela, com mais apoio às pesquisas sobre a espécie será possível engrossar os dados sobre sua biologia, hábitos de vida e condições necessárias a sua sobrevivência. As informações poderão ser usadas para criar unidades de conservação ou adequar planos de manejo de áreas protegidas públicas ou privadas, melhor resguardando o animal.
Mesmo que o tamanduaí ainda não esteja oficialmente ameaçado de extinção, os pesquisadores afirmam que já é visível o desaparecimento de suas populações, basicamente pela acelerada destruição e fragmentação da Mata Atlântica nordestina. A situação crítica deve ser reconhecida pela União Internacional para Conservação da Natureza. O mesmo deve ocorrer no Brasil, se houver aval do governo.
“Um dos passos mais importantes é divulgar a espécie, ainda desconhecida no Brasil, mesmo por populações que vivem próximas a ela. Também precisamos de mais apoio para as pesquisas. Estamos em busca de parceiros”, disse Flávia.
A empreitada tem até agora apoio do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil e da Fundação O Boticário.
(Por Aldem Bourscheit, O Eco, 08/01/2010)