No Reino Unido e outros países europeus, as empresas estão se preparando para usar a energia das ondas e marés do oceano para produzir eletricidade. O Reino Unido espera produzir até 5% de suas necessidades de eletricidade com usinas maremotrizes.
O Reino Unido espera em breve assumir a liderança global na exploração da força das marés para produção de energia limpa. A expectativa é de que uma única usina de força cubra 5% das necessidades de eletricidade do país, fornecendo 8,6 gigawatts de eletricidade livre de CO2, o equivalente a cerca de oito usinas nucleares - sem o incômodo do lixo nuclear.
A altura da maré na boca do Severn, o maior rio do Reino Unido, é de 15 metros. O país agora deseja fazer uso desta enorme força com seu projeto da Barragem de Severn. A barragem conterá a água na maré alta igual a uma barragem de hidrelétrica, e 216 turbinas gigantes - cada uma com cerca de 9 metros de diâmetro - serão alimentadas com o subir e baixar da maré.
Os críticos do projeto temem que ele perturbará o ecossistema do rio e notam que seu financiamento continua uma questão em aberto. Todavia, a energia lunar que afeta as marés é inesgotável - e este é o motivo para muitos estarem vendo o projeto com grande interesse. Apesar de alguns protestos, especialistas de todas as partes do mundo estão trabalhando para explorar esse poder eterno.
A força das marés também poderia ser explorada na Alemanha, argumenta Kai-Uwe Graw, um professor de engenharia hidráulica da Universidade de Leipzig. Graw diz que velocidades de fluxo suficientes - cerca de três metros por segundo é o ideal - podem ser encontradas em partes da ilha de Sylt, perto da fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca.
Graw começou a promover a conscientização do potencial das usinas maremotrizes nos anos 90. Na sua opinião, as usinas maremotrizes podem facilmente ser compatíveis com os esforços de conservação costeiros. Um benefício é que as instalações extraem parte da energia das marés, o que poderia ajudar a reduzir o tipo de erosão costeira e das praias que é um grande problema nas ilhas do Mar do Norte, como Sylt, nos últimos anos.
A energia elétrica das marés está pronta para ganhar proeminência?
Até recentemente, a tecnologia não estava pronta para proeminência. Um grande obstáculo era o fato de as turbinas, que ficam submersas, serem colocadas sob extrema pressão à medida que as forças da água movimentam as pás do rotor - uma pressão que pode variar em diferentes partes do equipamento e, portanto, exigir um desenho altamente resistente. Os rotores também precisam acompanhar a direção da mudança do fluxo da maré, visando otimizar a produção de energia. No passado, também não havia solução simples e barata para a manutenção e conexão das usinas à rede elétrica.
Mas Graw argumenta que a tecnologia agora está mais madura e que chegou sua hora. O fato de a tecnologia agora funcionar, ele diz, é comprovado pela usina maremotriz SeaGen, o longo da baía de Strangford, na costa da Irlanda do Norte, que está em operação desde meados de 2008. Lá, o equipamento funciona como um moinho submarino. As pás do rotor são movimentadas pela força das marés, que possuem uma velocidade de 2,4 metros por segundo.
Dois rotores com o diâmetro de 16 metros cada são capazes de gerar até 1,2 megawatt nessa velocidade - o suficiente para fornecer eletricidade para cerca de 1.000 casas. Atualmente a SeaGen é a usina maremotriz mais poderosa do mundo. Em comparação, uma grande turbina eólica é capaz de produzir 5 megawatts de eletricidade.
Tecnologia alternativa
Em Strangford, as pás da turbina são fixadas a uma barra transversal e a uma torre que permitem que sejam retiradas da água para um fácil trabalho de manutenção. A torre tem 40,7 metros de altura e mais da metade, cerca de 24 metros, fica debaixo d'água. É um desenho que não funcionaria na costa alemã.
Mas a empresa Voith Hydro, na cidade alemã de Heidenheim, deseja apresentar um protótipo de usina maremotriz no final do ano - juntamente com a subsidiária Innogy da gigante energética alemã RWE - que não depende de uma estrutura de torre e repousaria debaixo d'água, fixada no fundo do oceano. As pás do protótipo parecem mais com a hélice de uma lancha do que um moinho; e são projetadas simetricamente, para que não precisem ser reposicionadas durante a mudança do fluxo das marés.
O protótipo faz parte de um projeto de usina de força planejada para a costa sul-coreana. A longo prazo, turbinas suficientes deverão ser acrescentadas para gerarem um total de 600 megawatts de eletricidade - tanto quanto uma pequena usina elétrica a carvão - e fornecer eletricidade para cerca de 400 mil lares coreanos. Projetos-piloto também são planejados para a Europa.
A energia das marés é compatível com o meio ambiente?
O principal impasse com a energia maremotriz no momento é a proteção ambiental. Os especialistas estão divididos a respeito do impacto ambiental das usinas maremotrizes. Mas a geração atual de turbinas é melhor para o meio ambiente do que as gerações anteriores de usinas maremotrizes.
Quando a grande usina maremotriz em Saint-Malo, França, à boca do Rio Rance, entrou em operação em 1966, ela causou um impacto considerável na vida animal e vegetal. O velho sistema de barragem funciona como uma represa na boca do rio quando em operação, fazendo com que a água em movimento fique parada e alterando as condições de vida para a fauna e flora.
Mas com a mais recente geração de sistemas maremotrizes, peixes e outras espécies podem facilmente evitar as unidades nadando ao redor delas. Além disso, elas não causam impacto à costa, porque as turbinas ficam fixadas no solo.
Em termos de custo, entretanto, a energia maremotriz não representa uma concorrência. O uso da energia das marés ainda é muito caro - até mesmo em comparação a outras energias renováveis. Segundo cálculos do governo britânico, a eletricidade obtida com o projeto da Barragem de Severn custará cerca de 317 libras (US$ 503) por megawatt/hora. Em comparação, a energia eólica marítima custa cerca de 85 libras por megawatt/hora.
A energia maremotriz também não será barata na Alemanha. Mas ainda faz sentido para o país buscar a tecnologia, argumenta Graw. Afinal, as empresas alemãs já estão entre as líderes globais em energia hidrelétrica. A construção de um protótipo em casa, ele diz, é uma obrigação.
(Por Henning Zander, Der Spiegel / UOL, 10/01/2010)
*Tradução: George El Khouri Andolfato