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mobilidade urbana
2010-01-09 | Barbosa

por Creso de Franco Peixoto

O congestionamento na marginal do Rio Tietê, em São Paulo, começa a reduzir. A rodovia Airton Senna se aproxima. Termina o castigo de crime não-cometido. Admira-se a paisagem. Árvores em vez de prédios. Suave brisa ameniza a jornada no lugar de massa veicular. Subitamente, um movimento inesperado. Uma curva. O rio ao seu lado, silenciosamente flui, como se quisesse manter algum segredo.

São comuns canais ao lado de avenidas. Escoam esgoto em lugar de peixes. Sacos de lixo flutuam. Triste cenário urbano onde fluíam rios em suas várzeas. Curvas reproduzem seus antigos meandros que nunca mais foram vistos.

As marginais do rio Tietê se tornam vias de suma importância para a capital paulistana e para toda a região, sob irrefreável rodoviarismo. Novas faixas de tráfego não atendem à demanda reprimida que entope qualquer projeto. Enchentes estabelecem caos urbano e regional. Estaria esta via em local errado? Não. Várzeas não se ocupam por edificações, suas cheias naturais gerariam inadmissível flagelo. O ideal, apenas mata ciliar. Mas podem apresentar parques e sistemas viários. Uma avenida intransitável sete dias por ano em função de cheias gera desutilidade menor que 2%. Aceitável. Contudo, não há opções de tráfego. Caros viadutos? É preferível a construção de novas vias. Rodoanel? Já deveria estar pronto.

Poderíamos carecer de marginais? Há interessantes casos como o de Portland, nos EUA, onde se demole importante marginal e a qualidade da vida de seus habitantes melhora. Parques surgem em seu lugar. Trocam-se ruídos de escapamentos por canto de pássaros. Mas, a capacidade de tráfego não se reduziu? Passou a ter maior congestionamento? Não. Lá, o transporte público é gratuito na região central e de elevada qualidade. Ciclovias cortam toda a cidade. Dá mesmo vontade de deixar o carro na casa.

Outro caso interessante é o de Seul, capital da Coréia do Sul, onde a demolição de via marginal resultou na redução da temperatura média da cidade além de permitir até banho nas agora limpas águas do rio Cheonggyecheon, antigo tietê do Oriente. Aqui? Por que não estabelecer políticas educacionais visando ensinar e não a simplesmente dar diploma? O novo mundo seria mais bem compreendido.

Nas enchentes, águas revoltas saem de esgotos e bueiros entupidos. Inundam a via pública, entram sem piedade em residências. Carros arrastados. Tragédias da deseconomia popular. A elevada impermeabilização e fortes chuvas formam casal titânico para gerar o prato servido frio da vingança ambiental. Uma ideia? Construir cisternas para retenção de chuva nas casas, financiadas com desconto no IPTU.

A canalização que sepulta o rio é outro grave problema. Não há entrada para equipamentos de limpeza. Assoreiam, entopem. Há avenidas de São Paulo que sofriam alagamentos a cada 10 anos. Atualmente, a cada dia de chuva forte. Que se façam prospecção e limpeza urgentes.

Lixo? Joga-se em qualquer lugar. Contudo, antes de se salvar o sofá das águas, volta o saco de lixo à antiga moradia. Ajudou a entupir o bueiro. Agora, zomba da ignorância ambiental. Esgoto clandestino em canais completa a miséria educacional. Contamina e gera gás a oxidar a armadura que sustenta o teto do canal. A ruptura brusca ocorre na véspera da notícia de família que morre tragada por um buraco. O pai fora visto tentando tirar desesperadamente a filha do carro, antes da queda final.

Há canais que se cruzam como esquinas. A cheia cobre o erro de projeto que privilegiara lotes à venda do que o deflúvio. Que se altere sua geometria. Lagoas de contenção de cheias, os piscinões, minimizam cheias. Trabalham como semáforos para “temporizar” a passagem da água. Mas precisam ser mantidos limpos. Nem mais impostos ou discursos. Justos projetos de engenharia e técnicas de gestão mitigariam o sofrimento da falta de mobilidade. Afastariam o medo do seqüestro relâmpago da enchente a cada nuvem cinza que se aproximasse da cidade, antigo destino da esperança de vida melhor dos que do campo fugiam. E lá não há avenida hidráulica até hoje.

Creso de Franco Peixoto é mestre em Transportes e professor da FEI Fundação Educacional Inaciana cresopeixoto@gmail.com


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