Prefeitura de Dona Francisca acusa abertura de comportas. CEEE diz que não há relação com a tragédia. Usina libera fluxo de água quando ponto máximo é alcançado
A secretária de Administração de Dona Francisca, Cassiana Vendrúsculo, lamentou ontem pelo grande volume de água que fez o rio Jacuí transbordar. Segundo ela, o alagamento aconteceu devido à abertura das comportas da Usina Hidrelétrica Dona Francisca, ao meio-dia de segunda-feira. "Imagino que ocorreu precipitação na abertura das comportas", afirmou Cassiana. Ela lembrou que o grande volume de água provocou prejuízos praticamente em toda a região.
O diretor da Secretaria de Cultura, Desportos e Turismo, Josué Cheloti, também de Dona Francisca, também reclamou da abertura das comportas da usina. Segundo ele, com esse procedimento, o rio Jacuí ficou 12 metros acima do nível normal, o que provocou inundação de inúmeras casas, lavouras e demais estruturas da região. "Tem famílias que perderam tudo", comentou.
Na avaliação da CEEE, a abertura de comportas de usinas hidrelétricas situadas próximas à ponte sobre o rio Jacuí, em Agudo, não teve relação com a tragédia, ocorrida na manhã de terça-feira. O chefe da Divisão de Operações da companhia, Luís Carlos Tadiello, afirmou que as comportas da hidrelétrica de Passo Real foram abertas uma hora depois da queda da ponte sobre a RSC 287. Conforme Tadiello, Passo Real, situada acima da hidrelétrica de Dona Francisca, que não tem comportas, reteve as águas do rio Jacuí no período crítico da cheia, na tarde de segunda-feira.
O chefe da CEEE explicou que as comportas foram abertas na manhã do dia seguinte, porque o nível do rio Jacuí havia baixado na região da barragem.
De acordo com o dirigente da CEEE, o volume de água leva em torno de 12 horas para chegar ao ponto onde a ponte caiu. "A elevação do rio naquela região da ponte ocorreu pelo acúmulo de água nos afluentes laterais, pois, se tivéssemos liberado as comportas para não expor a barragem a uma situação de rompimento, esse patamar teria alcançado 12 mil metros cúbicos por segundo, o que poderia causar uma catástrofe", disse Tadiello.
Para ele, a decisão de represar as águas na usina, que fica no município de Salto do Jacuí, foi possível porque o reservatório é muito grande e tem grande capacidade. "Depois de atingir o pico, na terça-feira, tivemos de abrir as comportas, mas o rio Jacuí já havia baixado um pouco", sustentou.
Segundo Tadiello, na usina de Itaúba o reservatório é 20 vezes menor do que o de Passo Real, e não implicaria um aumento significativo do volume. Já na usina de Dona Francisca, em Agudo, o vertedouro é livre e sempre que o ponto máximo da barragem é alcançado, há a liberação do fluxo, explicou o chefe da Divisão de Operações.
(Correio do Povo, 08/01/2010)