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direitos indígenas terras indígenas mbya-guarani
2010-01-07 | Tatianaf

“Queimaram a nossa casa, queimaram nossos alimentos, queimaram nossas roupas, queimaram nossos colchões e nossas panelas. Era tudo que tínhamos!” (Cacique Mariano Garai da área Nhu Poty)

Na noite de 01 de janeiro de 2010 foi ateado fogo em uma das poucas casas que foram construídas para famílias Guarani na terra indígena Flor do Campo, em Passo Grande. Isso ocorreu enquanto as famílias Mbya residentes na margem direita da BR-116, próximo ao Arroio Passo Grande, município de Barra do Ribeiro, saíram para visitar os parentes na área Coxilha da Cruz. Ao retornarem, no dia 02 de janeiro, se depararam com a casa transformada em carvão e cinzas. Dentro dela tinham apenas o necessário para viver: roupas, colchões, alimentos e algumas ferramentas que eram utilizadas para trabalhar no roçado.

Passo Grande foi sempre considerado pelo poder público como apenas mais um acampamento indígena no sul do Brasil. Em função da luta e da articulação do povo Guarani, a Funai criou um Grupo de Trabalho (GT) para proceder aos estudos de identificação e delimitação desta terra, bem como do Petim e Arroio do Conde. De acordo com as informações prestadas por integrantes do GT existem fartas provas confirmando que aquelas três áreas em estudo são de ocupação tradicional dos Guarani.

As terras daquela região estão no domínio de plantadores de arroz, uva, eucalipto e por criadores de gado. Os Guarani, desde que o GT foi constituído, sofrem assédio por parte de alguns “proprietários” no sentido de que aquelas terras sejam excluídas dos limites que estão em processo de identificação. Ou seja, a comunidade local dos “produtores” não quer que as terras sejam demarcadas, preferem que os Guarani permaneçam acampados na beira da estrada, negando-lhes, com isso, o direito de viverem nas terras ancestrais.

Existem fortes suspeitas de que o incêndio tenha sido parte da estratégia para intimidar e ameaçar as comunidades MBya. Os Guarani denunciaram o incêndio ao Ministério Público Federal, bem como registraram queixa na Delegacia da Polícia Civil no município de Barra do Ribeiro, distante uns 60 km de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul.

As lideranças Guarani, apesar das pressões, estão firmes na luta pela demarcação e garantia de suas terras. E conclamam a Funai para que dê segurança e estrutura física e financeira ao GT, a fim de que este conclua os estudos de identificação e delimitação das três áreas.

(Cimi, IHU Unisinos, 07/01/2010)


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