Além da população, os dois cursos d’água mais importantes que cortam a área urbana de Bagé, deverão ser beneficiados diretamente com as obras de saneamento que começam amanhã
Trata-se dos arroios Bagé e Gontan, que atravessam a cidade de Norte a Sul. Verba para o saneamento já existe, conforme o prefeito Luís Eduardo Colombo dos Santos, em entrevista ao JM no final do ano passado. Colombo afirmou que o investimento será um marco no saneamento básico da cidade. O secretário Municipal de Meio Ambiente, Alexandre Melo, ao receber ontem, a reportagem, também confirmou esses recursos, que são provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um total superior a R$ 18 milhões será investido na retirada dos esgotos cloacais que despejam seu conteúdo nesses arroios.
A obra terá três fases distintas: Na primeira, serão investidos R$ 3,6 milhões na instalação de uma rede interceptora próxima aos pontos de lançamento de esgotos. Por esses interceptores, o esgoto doméstico será conduzido a uma Estação de Bombeamento, que será construída na segunda etapa das obras. Esta estação vai elevar o esgoto de terrenos mais baixos até uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), última fase das obras, onde o objetivo é devolver o esgoto tratado aos arroios dentro dos níveis estabelecidos pelos órgãos reguladores. Para os arroios deverá escoar sem tratamento, apenas, a água pluvial. Com isso, segundo estimativas técnicas do Departamento de Água e Esgotos de Bagé (Daeb), a cidade terá mais de 80% de seu esgoto devidamente tratado para ser despejado sem prejuízo ambiental aos arroios.
Primeira fase
Na primeira fase das obras, o centro da cidade e mais nove bairros serão beneficiados. O que corresponde a cerca de 30 mil habitantes. Conforme a diretora do Daeb, Isabel Aydos, a partir desse investimento, que faz parte do programa “Mais saneamento para Bagé”, a cidade irá ampliar o sistema de captação e tratamento de dejetos. “O investimento é diretamente ligado à saúde pública. Com a ampliação da nossa rede, a partir dos interceptores, teremos uma redução do número de esgotos a céu aberto, garantindo qualidade de vida para a população”, afirmou ela.
Um pouco de história
As enchentes que abalaram Bagé nos últimos meses de 2009 não são uma novidade para o município. Até os anos 70, a região onde registravam-se os casos mais numerosos de desabrigados era nas margens do Arroio Gontan. Depois de muito sofrimento, na administração do prefeito Antonio Pires, o Gontan passou a receber obras para minimizar os efeitos das cheias, já que era um curso d’água que passava por áreas de intensa urbanização. Na época, o arroio Bagé era um caso mais brando. Com recursos do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), foi construída a grande barragem de contenção, perto da nascente, que se pode ver, hoje, no acesso ao Grêmio dos Subtenentes e Sargentos. Esse talude segura as águas e retarda a cheia do arroio.
Com isso, dá tempo da chuva estiar e o volume de água diminuir. Paralelamente, o arroio Gontan foi canalizado em seu curso com o objetivo de controlar as cheias. A canalização iniciou perto de onde hoje se localiza a escola da Fundação Bradesco. Dali, o arroio segue em galerias de concreto passando por baixo de inúmeras residências até correr a céu aberto, mas ainda canalizado, nas imediações da Rua do Acampamento. Logo adiante, retoma sua forma natural para desaguar no arroio Bagé, perto do Militão. Do ponto de vista prático a obra teve resultado positivo. Não se fala mais em enchente nesses locais.
Porém, do ponto de vista ecológico, não é a medida mais adequada. Compartilha dessa opinião o secretário municipal de Meio Ambiente, Alexandre Melo. “Deve-se esclarecer que naquela época não havia uma legislação ambiental que regulasse esse tipo de obra”, destacou Melo. O secretário ressalvou, porém, que a taipa de contenção construída está de acordo com as normas de preservação ambiental. Adiantou, ainda, que existe um estudo de projeto semelhante para o arroio Bagé.
(Jornal Minuano, 07/01/2010)