Atividades tradicionais, como o Acampamento da Juventude, irão para cidades geridas por petistas
Cidade-símbolo da efervescência do Fórum Social Mundial nos primeiros anos, Porto Alegre desta vez terá de dividir a agitação do evento, entre os dias 25 e 29, com outras cinco cidades. Todas administradas pelo PT, um sinal de que a geografia política pesou na hora de elaborar a programação.
Um dos pontos de encontro mais tradicionais do FSM, o Acampamento Internacional da Juventude, por exemplo, será transferido das margens do Guaíba para a zona rural de Novo Hamburgo. Na Capital, numa edição bem mais modesta, em vez das multidões em busca de um outro mundo possível nas ruas, a principal atividade será repensar o futuro do projeto num seminário internacional.
Para justificar as mudanças, a organização diz que, por ser tratar de um evento sem um centro único, foi necessário permitir que cada município abrigasse uma tarefa diferenciada – decisão que vai reduzir a agitação esperada pelos porto-alegrenses.
Entre as seis cidades escolhidas para receber o Fórum, segundo a programação oficial, apenas Porto Alegre não é administrada pelo PT. Entre os petistas mais empolgados, está o prefeito de Canoas, Jairo Jorge. Sua cidade será movimentada por cerca de 200 oficinas e encontros.
– É um minifórum. Aproveitaremos para refletir – diz Jairo.
Por quatro anos – 2001, 2002, 2003 e 2005 – a Capital foi o único centro mundial das esquerdas. Desta vez, terá de compartilhar os holofotes com o mundo. Haverá agendas em outros países durante o ano inteiro. Devem ocorrer 27 Fóruns pelo planeta.
– Terá menos gente na Capital, mas haverá muito conteúdo. Não será de grandiosidade e de quantidade, mas será profundo em qualidade. Não dá para comparar os Fóruns passados com este por serem totalmente diferentes – avalia Oded Grajew, integrante do conselho internacional.
Desde 2006, os organizadores optaram por preparar um encontro centralizado maior a cada dois anos. Quando não há o Fórum único, ocorrem versões descentralizadas, o que dilui o impacto. Esta é a primeira vez que a Capital recebe a edição reduzida.
– É quase impossível fazer um Fórum de fato a cada ano. Os custos são muito altos. Não dá nem tempo de executar o que foi planejado – explica Celso Woyciechowski, integrante da coordenação.
A poucos dias da abertura, falta fechar a programação da Capital. Por enquanto, estão confirmados nomes conhecidos dos gaúchos, como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
A prefeitura deve fazer hoje um pregão para escolher empresas que instalarão som e colocarão cadeiras. Segundo o vice-prefeito da Capital, José Fortunati (PDT), a previsão do município é gastar R$ 2,4 milhões.
– Não temos ideia de quantas pessoas virão, mas será uma hiperestrutura – diz o pedetista, que promete cobrir a cidade com outdoors na próxima semana.
As estrelas
Veja que são os intelectuais e presidentes esperados para o evento:
- Boaventura de Sousa Santos (sociólogo português)
- Christophe Aguiton (sindicalista e ativista político francês)
- David Harvey (geógrafo inglês especialista em estudos urbanos)
- Evo Morales (presidente da Bolívia)
- Hugo Chávez (presidente da Venezuela)
- Immanuel Wallerstein (sociólogo norte-americano)
- João Pedro Stedile (economista brasileiro, fundador do MST)
- José Mujica (presidente eleito do Uruguai)
- Luiz Inácio Lula da Silva
- Samir Amin (economista egípcio e fundador do Fórum)
- Virgínia Vargas (socióloga e feminista peruana)
(Zero Hora, 07/01/2010)