A boa cotação do preço da castanha-do-brasil provocou uma mudança nas atividades produtivas da Reserva Extrativista (Resex) do Rio Cajari, unidade de conservação de uso sustentável gerida pelo Instituto Chico Mendes no município de Laranjal do Jari/AP - região abundante em castanhais, na fronteira dos estados do Amapá com o Pará. De 2000 a 2005, o preço do hectolitro do produto saltou de R$ 22 para R$ 90.
Essa valorização no mercado fez com que, neste mesmo período, muitas famílias da Resex trocassem a atividade mista de agricultura e extrativismo para se dedicarem ao extrativismo baseado na coleta da castanha.
Estes dados fazem parte de uma pesquisa do agrônomo Walter Paixão, da Embrapa Amapá, para sua dissertação de Mestrado em Agriculturas Amazônicas, pela Universidade Federal do Pará. A pesquisa foi orientada pela professora Laura Angélica Ferreira, e contou com apoio financeiro da Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA).
Para realizar o estudo, Paixão analisou as atividades produtivas das comunidades Marinho, Açaizal e Martins, referentes aos anos de 2000 e 2005. O objetivo foi observar se os extrativistas seguem as normas de uso do Plano de Utilização da Reserva, elaborado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio) e pela comunidade local. Apenas dois casos de não cumprimento foram registrados, referentes à atividade pecuária, que é proibida em área de reserva.
Dividida em três capítulos, a dissertação apresenta o contexto histórico, sócio-econômico e humano que envolve a região de localização da Reserva Extrativista do Rio Cajari/AP. O autor faz uma análise da relação 'extrativismo versus agricultura' no período colonial brasileiro e amazônico, passando pelos ciclos do extrativismo, com ênfase ao ciclo da borracha.
“Fazemos também uma análise da ameaça aos sistemas extrativistas da Amazônia por políticas desenvolvimentistas das décadas 70 e 80, e a emergência da cultura conservacionista associada ao desenvolvimento”, acrescenta Paixão.
Uma das conclusões da pesquisa é de que nenhuma família deixou de fazer agricultura e nem reduziu suas áreas de cultivo, mesmo mantendo a atividade de coleta e venda da castanha. “O que aconteceu foi um impacto grande na renda das famílias, devido ao alto preço e ao aumento da produção da castanha”, explicou Walter Paixão.
As famílias continuam plantando roças para consumo ou venda, com destaque para a mandioca. Outras culturas são a banana, batata, cará e abóbora, além da criação de galinhas, patos e suínos.
A Reserva do Rio Cajari, a primeira do Amapá, foi criada em 1990. Trata-se de uma área onde predomina uma floresta densa. Nos diferentes processos de ocupação desta área, desde 1890, a extração da castanha sempre foi a principal atividade do Alto Cajari, localizada no Sul do Estado.
(Ascom ICMBio, 06/01/2010)