Constituída em março de 2008 e sediada em São Paulo, a Brasil BioFuels já iniciou o plantio de palma em Roraima para tentar aproveitar o potencial do mercado de energias renováveis no Norte do país. Muito dependente do diesel "importado" do Centro-Sul tanto para as atividades de transporte quanto para a geração de eletricidade, a região, conhecida no mundo todo por abrigar a Floresta Amazônica, busca alternativas para limpar sua matriz energética e baratear custos.
A acionista majoritária da Brasil BioFuels é Marina Lagreca, e Milton Steagall é seu principal executivo. Ambos mantêm participações acionárias na Biocapital, também dedicada a biocombustíveis. Em fevereiro de 2008, a Biocapital cancelou uma planejada oferta de ações na bolsa em consequência da deterioração das condições do mercado, o que levou ao adiamento ou arquivamento de alguns projetos. Em entrevista ao Valor, Steagall disse que não participa mais das questões executivas da Biocapital.
Quanto aos planos da Brasil BioFuels, Steagall mostra-se um entusiasta. Segundo ele, já foram investidos cerca de R$ 8 milhões, em capital próprio, na aquisição de terras no sul de Roraima e na fase inicial do plantio de palma na região. "Há 1,1 mil hectares comprados, 200 deles com plantio definitivo, com licença ambiental estadual. E já temos mudas para 1,4 mil hectares", informa. As plantações estão localizadas nos municípios de São João da Baliza e Caroebe.
Para acelerar a expansão, Steagall afirma que a BioFuels aguarda a publicação das diretrizes traçadas pelo primeiro zoneamento agroecológico da palma, que deve ser publicado pelo governo federal no início de 2010. "No passado, a Embrapa considerava a palma inapta para Roraima. Nas savanas do Estado de fato a palma não pega, mas no sul as condições são parecidas com as dos grandes produtores da Ásia. Acreditamos que a palma é uma boa opção para a recuperação de áreas já desmatadas".
A companhia obteve autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para se tornar uma produtora independente de energia e está montando uma termelétrica a base de biomassa (cachos e bagaços) da palma em São João da Baliza. A usina foi projetada para 16 megawatts, está em fase de aquisição de equipamentos e deverá entrar em operação até o fim de 2010. O investimento previsto é de R$ 65 milhões, que ainda terá de ser equacionado. Bancos de fomento como BNDES e BASA aparecem como as principais opções para a obtenção de crédito.
Para que a usina tenha biomassa suficiente para não depender de terceiros, terá de contar com uma área de plantio ao menos 5 mil hectares. Conforme Steagall, o projeto da BioFuels prevê ampla parceria com a agricultura familiar local, e há tratativas com o Ministério do Desenvolvimento Agrário para acelerar o cadastramento desses produtores. Com o zoneamento agroecológico, esta parceria poderá contar com recursos do Pronaf. Com colheita manual, a a cultura palma exige grande contingente de mão-de-obra.
O projeto da BioFuels prevê uma fábrica de biodiesel em Caracaraí, a 200 quilômetros da térmica de São João da Baliza. Programada para 2012 e orçada em R$ 80 milhões, a unidade teria capacidade inicial para rodar com o óleo de palma de uma área de plantio de 5 mil hectares, ampliável para 10 mil. "A área está comprada e em fase de licenciamento ambiental", diz Steagall.
Como a palma só entra em fase de produção comercial em cinco anos - a vida útil da planta é de cerca de 35 anos -, os planos da Brasil BioFuels envolvem alternativas de plantio e matérias-primas para a geração de energia. Como até o quarto ano a palma não faz sombra, culturas como feijão e mandioca podem ser viáveis. Para a térmica, a ideia é usar a biomassa da acácia, já encontrada na região de São João da Baliza.
(Por Fernando Lopes, Valor Econômico, Amazônia.org.br, 04/01/2010)