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geração de energia fontes alternativas
2010-01-05

A rede elétrica da Tanzânia é alimentada por gás, diesel e energia hidráulica. Mas, nos últimos anos este país sofreu severos apagões e medidas de racionamento de energia em áreas urbanas devido às secas.

Vendo como os rios secavam em sua região natal de Kilimanjaro, Estomih Sawe decidiu buscar alternativas para os tanzanianos. “Apenas 10% dos moradores do país têm acesso à eletricidade. As pessoas como nós são afortunadas”, disse Sawe, sentado em seu escritório com ar-condicionado na capital da Tanzânia. “Em áreas rurais, onde vivem mais de 80% das pessoas, apenas 5% têm acesso à eletricidade. Assim, pode-se imaginar a grande tarefa que temos pela frente”, acrescentou.

Na Tanzânia queima-se um milhão de toneladas de carvão vegetal por ano, o equivalente a eliminar 300 hectares de floresta por dia. “Lamentavelmente, o ritmo de desmatamento não é proporcional aos esforços com reflorestamento”, afirmou Sawe. “Se fizermos o cálculo, 300 hectares por dia, em 365 dias, é igual a 109.500 hectares anuais. Somos capazes de plantar apenas 25 mil hectares anuais. Assim, é realmente um grave problema para nosso meio ambiente”, acrescentou.

Sawe criou em 199 a Tatedo (Organização da Tanzânia pela Energia Tradicional, pelo Desenvolvimento e Meio Ambiente) para colocar em prática os conhecimentos que adquiriu sobre fontes renováveis ao trabalhar para o Ministério da Energia. “Um dos principais problemas é a utilização da biocombustíveis sólidos, entre os quais lenha e carvão vegetal. A tecnologia e o uso destes são muito ineficientes”, afirmou.

Os fogões mais usados na Tanzânia perdem mais de 85% da energia potencial desses combustíveis. “O número de pessoas que morre, particularmente mulheres e crianças, pela inalação da fumaça está aumentando”, disse Sawe. “A Organização Mundial da Saúde afirma que mais de 75 pessoas morrem diariamente neste país por inalar fumaça com estas tecnologias deficientes”, acrescentou. Mas, fazer mudanças é complicado por diversos fatores, incluindo gênero e pobreza, segundo a Rede de Energia Domiciliar (Hedon).

A divisão do trabalho por gênero normalmente faz com que as mulheres sejam responsáveis pela maior parte do trabalho doméstico, e, junto com as crianças, elas são as mais afetadas pela inalação de fumaça. Por outro lado, a influência das mulheres na tomada de decisões no lar está limitada por sua dependência econômica em relação aos homens. Segundo a ONU-Habitat, nos lugares onde é potencializado o papel das mulheres, estas têm mais probabilidade de adotar melhores tecnologias para mudar práticas energéticas prejudiciais e melhorar as condições de vida de suas famílias.

Na aldeia de Igunhwa, na região de Mwanza, foram formados vários grupos de mulheres que aproveitam sistemas de microfinanças e constroem fogões de barro mais eficientes desenhados pela Tatedo. “Antes que nos trouxessem fogões de barro, usávamos os tradicionais de três pedras para cozinhar”, disse Florence Ngembwe, do grupo de mulheres Upendo. “Um dos problemas para usar o fogão de três pedras é a necessidade de muita lenha para cozinhar, e são as mulheres e as meninas que vão em busca da lenha”, contou Florence.

“Também há muitos impactos na saúde das mulheres, devido à fumaça que inalam enquanto cozinham. Gastaríamos muito tempo buscando madeira em lugar de fazer outras atividades produtivas, e, em geral, as meninas também fariam este trabalho, deixando de ir à escola”, explicou Florence. Muitas das mulheres envolvidas no projeto disseram que a construção de fogões melhores as ajudou de maneira significativa. Agora diminuiu a carga de seu trabalho. Precisam coletar menos lenha e os novos fogões têm chaminé, o que significa menos fumaça na cozinha.

Segundo Sawe, mais de 80% dos moradores urbanos da Tanzânia usam carvão para cozinhar. A Tatedo diz que em Dar es Salaam, cerca de 60% das casas receberam ajuda para melhorar seus fogões. “É um grande desafio. Primeiro é preciso tratar com pessoas com meios limitados, baixa renda. Aqui falamos de tecnologias nas quais os custos iniciais são altos”, explicou Sawe. A Tatedo também prepara combustíveis alternativos com dejetos do corte de árvores e resíduos agrícolas. “Não é preciso cortar uma árvore para fazer carvão”, acrescentou.

A organização usa casca de arroz e de coco, bem como serragem, para criar blocos. Com a introdução dos novos fogões, a TaTEDO assegura ter salvo mais de 4.500 hectares de árvores. Mas a mudança ainda é lenta. “Naturalmente, há problemas estruturais. Se tratamos com pessoas que usam fogão de três pedras há muito tempo, existe todo um esforço para mudar a nova tecnologia, mesmo esta sendo muito boa”, disse Sawe.

(Por Jessie Boylan, IPS / Envolverde, 05/01/2010)


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