O leão Alex, 9, havia passado praticamente toda a vida como estrela de um desses circos que a cada final de semana se apresentam numa cidade diferente.
Quatro meses atrás, em Campo Grande (MS), uma pessoa que passava perto das lonas armadas viu Alex sendo covardemente chicoteado por um funcionário e fez uma denúncia ao Ministério Público. O circo perdeu a guarda da fera.
O Ibama autorizou a "adoção" de Alex pelo Rancho dos Gnomos, entidade de Cotia (Grande São Paulo) que cuida de animais selvagens vítimas de maus-tratos. "Ele chegou aqui acabado, mutilado, com os dentes podres, queimado, desnutrido. Estava totalmente apático, um fiasco", diz Sílvia Pompeu, diretora da entidade.
Casos como o de Alex vêm aumentando. Em 2006, a população de grandes felinos selvagens resgatados no Brasil, principalmente leões, era de 68 animais. No ano passado, segundo o Ibama, foram 150.
São três as razões possíveis para que um leão perca lugar no circo. Uma é quando ele envelhece, perde o vigor físico e fica feio. Para o domador, não faz sentido alimentar um animal sem utilidade.
Outro motivo é a ação das autoridades diante de denúncias de maus-tratos. A terceira razão são leis estaduais e municipais que começam a surgir país afora proibindo animais nos espetáculos. Projetos de lei em tramitação no Congresso buscam estender a proibição a todo o Brasil. Com medo da punição, alguns circos entregam seus leões ao Ibama. Outros simplesmente os abandonam.
Destino incerto
O que fazer com o rei dos animais? Ele não pode ser solto na floresta porque, além de perigoso, não é original da fauna brasileira, podendo provocar desequilíbrios ambientais. Tampouco pode ser mandado para a África, como já se fez. Entidades de defesa dos animais dizem que os debilitados leões brasileiros são presas fáceis nos safáris de caça.
O Ibama não dispõe de lugar para mantê-los. A solução, então, tem sido enviar os animais para os setores extras dos zoológicos - esses leões não têm as mínimas condições para serem expostos ao público - ou para criadores credenciados que se mantêm à custa de doações.
No ano passado, o governo federal aprovou uma norma que tornou obrigatória a esterilização dos leões mantidos por criadores privados. Há anos não se permite a importação.
A União Brasileira de Circos Itinerantes diz que a culpa não é dos circos. "São poucos os circos com leão hoje em dia. Ele só come, dorme e urra. Não tem muita serventia. O tigre é mais esperto", afirma Wladimir Spernega, diretor da entidade.
De acordo com ele, o número crescente de leões resgatados tem origem nas pessoas que criam esses animais clandestinamente em chácaras.
Alex está agora em recuperação, cumprindo quarentena. Depois, dividirá uma ampla área verde do Rancho dos Gnomos com outros 13 leões, um tigre e uma onça. Logo deverá juntar-se ao grupo uma tigresa rejeitada por um circo no Piauí.
(Folha Online / AmbienteBrasil, 31/12/2009)