Menos de um ano após o STF (Supremo Tribunal Federal) confirmar a demarcação contínua da terra indígena Raposa/Serra do Sol, produtores rurais e políticos de Roraima protestam ante a possibilidade de criação de novo parque nacional no Estado. A proposta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é criar um parque de 155 mil hectares para preservar o lavrado (similar à savana) perto da Serra da Lua, no município de Bonfim.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o lavrado tem fauna e flora específicas, diferentes das do cerrado. Lá vivem mais de 600 espécies de animais, algumas exclusivas do local, mas não há nenhuma área de preservação específica do ecossistema, diz Marcelo Cavallini, do ICMBio. "O avanço do agronegócio e o aumento do povoamento ameaçam a região."
Produtores afirmam que, pelo desenho atual do parque, 250 famílias que vivem da pecuária teriam que ser removidas dali. Para os ruralistas, as demarcações prejudicam o Estado: "Não somos contra a preservação, mas Roraima não precisa de mais uma reserva", diz Almir Sá, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado. Segundo a Embrapa, 56% da área do Estado é ocupada por reservas, unidades de conservação ou pelo Exército.
Em ofício ao ICMBio, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) diz que a indefinição na posse de terras paralisa a economia. O presidente da Faerr concorda. "Ninguém quer investir em Roraima", diz Sá.
(Por Luiza Bandeira, Folha de S.Paulo, 03/01/2010)