Claudio Palmeiro do Amaral (Uerj e PUC-Rio) afirma que país deveria investir em sistemas de percepção de risco, alerta e evacuação
Mortes por "escorregamento" de encostas, como as que ocorreram na Ilha Grande e no centro de Angra, poderiam ser evitadas ou reduzidas se o país tivesse mais "percepção de risco", fator decisivo nesses casos.
A afirmação é do geólogo Claudio Palmeiro do Amaral (Uerj e PUC-Rio), um dos maiores especialistas do país. Amaral é do Departamento de Recursos Minerais do Rio e passou o dia em Angra, com uma comissão, vistoriando áreas afetadas. Para ele, o Brasil está atrasado em mecanismos e percepção de risco que, com um sistema de alerta e evacuação, poderiam evitar tragédias.
"Devem-se implantar nesses lugares mecanismos considerando que, a partir de determinado índice de chuva, deva-se evacuar a área", disse. "Há uma ignorância de mecanismos e fatores. O país ainda está atrasado, as pessoas não têm costume, não está na agenda -como no Japão e nos EUA, que têm treinamentos para casos de terremotos e tornados."
Na Ilha Grande, há apenas cerca de 1 m ou 1,5 m de solo diretamente sobre a rocha, o que facilita escorregamentos de terra, que pega velocidade. Devido à grande inclinação dos morros, a cobertura vegetal -que pode conter deslizamentos em outros casos- é um fator menos relevante em relação aos demais, afirma Amaral.
Ele diz que os deslizamentos em Angra tiveram contribuição humana -escavação, aterros, construções. Mas, segundo Amaral, "a mão humana é um "plus'", nem sempre essencial - Ilha Grande é um exemplo.
(Folha Online, 03/01/2010)