64 pessoas morreram no Estado do Rio desde o último dia 30; no Réveillon de 1989, foram 55 mortos na baía de Guanabara
Depois das buscas realizadas ontem em Angra dos Reis (RJ), chegou a 42 o total de mortos na cidade em decorrência das chuvas na virada do ano. Mais três corpos foram encontrados no centro e nove na Ilha Grande -dois deles boiavam.
Contando todo o Estado do Rio desde a quarta-feira, os óbitos até as 20h de ontem, 64, superam os registrados no acidente com o Bateau Mouche -o barco naufragou na baía de Guanabara no Réveillon de 1989, matando 55 pessoas. Na região Sudeste, são 77 mortos.
Houve mortes na capital (11), Baixada Fluminense (9), Niterói (2) e Angra (42). Apenas na Ilha Grande, a expectativa é que mais de dez corpos estejam sob os escombros.
A Defesa Civil determinou que a praia da enseada do Bananal, na Ilha Grande, fique fechada a turistas até o fim dos trabalhos de resgate -ao menos 28 pessoas morreram. Conforme o coronel Pedro Machado, a circulação de turistas poderia prejudicar o trânsito dos bombeiros. Os 278 moradores da praia vivem basicamente do turismo.
Antes da decisão, cerca de 120 turistas anteciparam a volta, prevista para amanhã. O deslizamento destruiu sete casas e parte da Pousada Sankay. No fim da tarde, as autoridades ordenaram a retirada dos jornalistas, alegando motivos de segurança -haveria risco de novos desabamentos. Eles poderão voltar hoje.
O governador Sérgio Cabral (PMDB) visitou de manhã, pela primeira vez desde a tragédia, locais atingidos pelas chuvas. Em entrevista na Ilha Grande, falou em "radicalizar" na política de ocupação do solo. Disse que a permissão para a construção de casas em encostas deve ser revista, mesmo onde atualmente é permitido -como era o caso das sete casas destruídas e da pousada.
"Há de se ter uma nova revisão disso. Ou a gente enfrenta ou vamos continuar com todo ano tendo como pauta desastres como esses aqui", afirmou. A ocupação do solo é atribuição municipal. Mas Cabral disse que pode influenciar na decisão, ampliando a extensão de parques estaduais. De acordo com ele, há 3.000 casas em situação de risco em Angra.
Cabral se irritou ao ser questionado sobre sua ausência por dois dias nos locais da tragédia. "No momento inicial de uma situação como essa, quem deve vir ao local são as autoridades públicas que, de fato, podem resolver o problema. Não faço demagogia. Houve tempo em que o governador comandava operação de resgate do [ônibus] 174, tirava fotos ao lado de granadas, de traficantes, como se fosse ele o [ator americano] John Wayne da história", disse.
Cabral recebeu ligação do presidente Lula, que lhe assegurou a liberação de recursos -não falou em valores. O Estado oferece vagas para parentes das vítimas em hotel do Rio.
(Folha Online, 03/01/2010)