Fábio Mariano, da ESPM, diz, porém, ser absurdo que empresas repassem custo verde a consumidor
Mais da metade dos brasileiros já fazem parte da classe C, que engloba famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500, aproximadamente. Em seis anos, 20 milhões subiram para esta faixa -e o fluxo continua. É gente descobrindo como é bom consumir, mas que não se preocupa muito com o planeta, diz Fábio Mariano, professor da ESPM e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch.
FOLHA - A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO - Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.
FOLHA - Então a nova classe média não quer saber, digamos, se a carne que compra vem da Amazônia?
MARIANO - Estas pessoas, que até 2000 chamávamos de excluídos, agora estão ganhando uma grana legal para fazer a festa no shopping. E há também o grande boom, que é a expansão do crédito. Mas só isso não adianta. A educação que recebem não está melhor. E precisa ter um certo aparelhamento pessoal para entender o conceito de sustentabilidade.
FOLHA - Mas os mais instruídos pagam mais por produtos verdes?
MARIANO - A classe alta até paga um pouco mais por produtos que favoreçam a sustentabilidade, mas ainda é pouco. Mesmo porque não existem muitos produtos assim no mercado. Você consegue citar dez? E, quando existem, a distribuição é restrita, não é algo disponível para as pessoas da classe C. Vai querer que peguem o ônibus para ir comprar no bairro rico?
FOLHA - Você não considera justo que o custo da sustentabilidade sobre para o consumidor, então.
MARIANO - Não. Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo. Essa imagem de que o consumidor que quer pagar mais é consciente, enquanto o que não quer é um assassino que pretende acabar com o mundo... Vocês deliraram, né?
FOLHA - Poucos consumidores parecem pressionar as empresas...
MARIANO - Só os mais esclarecidos. Porque o consumidor tem um monte de problemas. Tem câncer, Aids, é chifrado, tem de pagar a escola do filho. Vai ter que se preocupar também com salvar o mundo quando a esposa está precisando de um medicamento? Querer que o consumidor, além de tudo, pague cinco reais numa ecobag no supermercado? Empresa que cobra ecobag não tem vergonha.
(Por Ricardo Mioto, Folha de S. Paulo, 01/01/2010)