Gaúchos atentos às mudanças impostas pelo mercado lançam mão de práticas que beneficiam o ambiente
Um estudo divulgado em dezembro pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo, indica que a pecuária foi responsável por 60% das emissões de gases de efeito estufa do setor primário em 2005. A causa está na liberação de metano pela fermentação do alimento no processo de ruminação e pelas fezes dos bovinos, além do óxido nitroso da decomposição da urina no solo. Os dois gases, lembram pesquisadores, têm potencial de aquecer a atmosfera, respectivamente, 20 e 300 vezes mais do que o CO2.
Mas a saída para diminuir as emissões dos bovinos está em técnicas que contribuem para o aumento da produtividade.
– A lotação pecuária no Brasil é de 0,9 animal por hectare. Para ter mais produtividade, precisaríamos recuperar pastagens, apostar na integração lavoura-pecuária, no melhoramento genético e no confinamento. Um boi leva hoje quatro anos para ser abatido, diminuindo para dois anos e meio ele ficará menos tempo eructando. O Brasil tem 170 milhões de hectares de pasto e metade disso tem alguma degradação. Se recuperássemos estas áreas e melhorássemos a produtividade, haveria mais espaço para ampliar a produção de grãos sem desmatar – diz o pesquisador Carlos Cerri, da Esalq.
Na mesma linha de preocupação, o pesquisador Giampaolo Pellegrino, da Embrapa Informática Agropecuária, lembra que, enquanto a agricultura aumentou o volume colhido pelo avanço da produtividade, a pecuária se expande ganhando área.
– Pastagem bem manejada incorpora mais carbono ao solo porque tem mais biomassa e raízes mais profundas. A integração lavoura-pecuária tem ainda a vantagem de reaproveitamento de restos das culturas para a alimentação dos animais e dos resíduos dos fertilizantes. A implantação e manutenção é mais cara, mas dá resultados financeiros pelo aumento da produtividade – entende Pellegrino.
Ocimar Villela, do Instituto para o Agronegócio Sustentável (Ares), concorda, mas pondera:
– É preciso linhas específicas para isso. Acredito que os bancos vão criar isso no curto prazo.
Embora em uma situação mais confortável em relação à pecuária, a agricultura pode evoluir, dizem os especialistas. Entre as técnicas de manejo indicadas estão o plantio direto – técnica adotada em 26 milhões de hectares no Brasil –, e a fixação biológica do nitrogênio no solo. O chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Valdir Stumpf, cita ainda a rotação de culturas e o manejo integrado de pragas para reduzir o uso de agrotóxicos como outras técnicas que contribuem para uma agricultura sustentável.
(Zero Hora, 31/12/2009)