Mais 330 cidades terão exigência de vacinação; doença que atingia só algumas regiões caminha para o litoral
A febre amarela silvestre se alastra pelo País. A doença, que até 2007 atingia as Regiões Norte, Centro-Oeste e Estados do Maranhão e Minas, caminha rapidamente para as demais áreas, chegando ao Sul e aproximando-se do litoral. Diante da expansão, o Ministério da Saúde decidiu ampliar a recomendação da vacinação contra a doença. Este mês, quando tradicionalmente o número de casos da febre amarela começa a subir, o governo divulgou um comunicado orientando mais 330 cidades a incorporar a vacina para moradores e visitantes.
Sobe agora para 3.048 o número de cidades onde todos os moradores a partir de 9 meses de idade devem estar com a vacinação contra a doença em dia - o equivalente a 35% da população do País. O número é 56% maior do que o registrado em 2001. Naquele ano, 1.943 cidades vacinavam sua população contra a febre amarela de forma rotineira.
Secretários de saúde desses municípios foram orientados a alertar a população não-imunizada para procurar postos de vacinação. Dos 330 municípios, 271 estão no Rio Grande do Sul, 44 em São Paulo, 11 em Santa Cataria e 4 no Paraná. As razões para a expansão da doença ainda não são totalmente conhecidas. Mas técnicos do Ministério da Saúde avaliam que o problema está ligado às mudanças climáticas e ao desmatamento.
A febre amarela silvestre é transmitida pela picada do mosquito Haemagogus contaminado. Nas matas, macacos são o principal reservatório do vírus: animais doentes são picados pelo mosquito que, por sua vez, transmite a doença para macacos sadios. O homem pode ser infectado neste ciclo quando ingressa em uma região de risco sem estar vacinado.
De acordo com técnicos, o clima mais quente favorece a proliferação dos criadouros do Haemagogus. Além disso, com desmatamento, primatas muitas vezes são forçados a se deslocar para outras áreas, aproximando-se das cidades e da população não vacinada.
Os últimos números divulgados pelo ministério mostram que ocorreram entre setembro de 2008 e setembro de 2009 51 casos confirmados de febre amarela - 21 morreram. A maior parte dos pacientes era homem. O número é bem superior ao que havia sido registrado em anos anteriores, com exceção de 2003, quando 64 casos foram registrados.
Com o aumento da vacinação, será preciso também ampliar a vigilância para efeitos adversos. Entre outubro de 2008 e agosto de 2009, foram distribuídas 22,45 milhões de doses. No mesmo período, foram confirmados 56 casos de pacientes com efeitos colaterais graves da doença, com 9 mortes. De acordo com técnicos, efeitos colaterais não ocorrem com frequência e não reduzem a importância da vacinação - a única arma contra a doença.
A maior preocupação é a de que pessoas não busquem postos para se vacinar novamente antes de 10 anos da última dose, provocando uma corrida semelhante a que ocorreu em 2008, quando filas foram registradas em vários pontos do País. O ministério afirma que devem ser vacinadas somente moradores ou pessoam que se dirijam para a área de risco. No telefone 0800-611997 é possível saber quais cidades estão nesta relação. Prevendo um aumento da procura, o ministério também criou um serviço no seu site (www.saude.gov.br).
Apesar da expansão da circulação do vírus, não há casos de febre amarela urbana, transmitida na cidade geralmente pelo mosquito Aedes aegypti. A doença está erradicada do País desde 1942, quando a vacina contra começou a ser usada.
Saiba mais
- O que é a febre amarela: Doença infecciosa, de gravidade variável e com até 12 dias de duração
- Transmissão: Pela picada de mosquitos transmissores infectados (tanto insetos silvestres quanto urbanos, como o Aedes aegypti). Não há transmissão entre pessoas
- Sintomas: Febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia e hemorragias
- Tratamento: Não há remédio, apenas se controlam os sintomas
- Prevenção: Vacina é gratuita nos postos de saúde. É administrada em dose única a partir dos 9 meses e tem validade de 10 anos
- Quem deve se vacinar: Moradores ou pessoas que viajam para áreas consideradas de risco
(Por Lígia Formenti, O Estado de S. Paulo, 30/12/2009)