O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, disse na terça-feira (29/12) que o plano norte-americano de instalar um escudo antimísseis é o principal entrave a um novo acordo para a redução do arsenal nuclear da Guerra Fria.
As duas potências dizem estar próximas de um acordo que substitua o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start 1, de 1991). Questionado por jornalistas em Vladivostok (leste da Rússia) sobre o maior problema nas negociações, Putin disse: "O problema é que os nossos parceiros norte-americanos estão construindo um escudo antimísseis, e nós não estamos construindo um."
Ele disse que o projeto dos EUA basicamente perturbaria o equilíbrio de poder da Guerra Fria, e isso obrigaria Moscou a desenvolver novas armas ofensivas.
As declarações, vindas do político mais poderoso do país, mostram o desconforto que a Rússia ainda sente com a ideia do escudo antimísseis, apesar de em setembro o governo de Barack Obama ter abandonado parte do projeto, que vinha do mandato de George W. Bush.
A Rússia se sentia ameaçada pela presença do escudo antimísseis em sua tradicional esfera de influência. Washington garante que o objetivo seria conter ameaças de Estados "párias", como o Irã.
Em Washington, uma fonte oficial de primeiro escalão do governo dos EUA disse à Reuters: "Fizemos um progresso substancial nas negociações e continuamos confiantes de que, quando as negociações forem retomadas, em janeiro, poderemos finalizar um acordo."
A redução de milhares de ogivas dos arsenais nucleares acumulados na Guerra Fria é um elemento central da proposta de Obama de "relançar" as relações com a Rússia, da qual os EUA esperam mais ajuda com relação ao Afeganistão e o Irã.
Líderes russos ainda se mostram céticos com relação à proposta de Obama para o escudo antimíssil, que seria instalado no mar e em terra. "Se não desenvolvemos um escudo antimísseis, há um perigo de que nossos parceiros, com a criação desse 'guarda-chuva', se sintam completamente seguros e assim se permitam fazer o que quiserem, perturbando o equilíbrio, e a agressividade irá subir imediatamente", disse Putin.
O tratado original expirava em 5 de dezembro, mas foi prorrogado enquanto os dois países negociam um novo. Obama e Medvedev discutiram o assunto pela última vez durante a conferência climática de Copenhague neste mês.
(Por Gleb Bryanski, Reuters / UOL, 29/12/2009)