Um tribunal de Israel ordenou nesta terça-feira que o dissidente Mordechai Vanunu, técnico nuclear que revelou o programa militar atômico israelense na década de 80, permaneça sob prisão domiciliar após quebrar o acordo de liberdade condicional e falar com estrangeiros. A decisão foi tomada depois que a polícia interrogou Vanunu, após detê-lo ontem em um hotel de Jerusalém Oriental durante um encontro com vários estrangeiros.
O dissidente israelense Mordechai Vanunu, preso depois de conversar com estrangeiros
Segundo o advogado Avigdor Feldman, defensor do técnico, a detenção ocorreu devido às relações sentimentais do cliente tem com uma norueguesa, que além disso foi interrogada pela polícia e cuja identidade não foi revelada.
O israelense cumpriu 18 anos de detenção por ter entregue dados confidenciais do programa nuclear israelense e fotografias do centro de pesquisa nuclear de Dimona, deserto do Negev, ao jornal britânico "Sunday Times", em 1986. Na época, ele trabalhava como técnico. Foi com base nas informações de Vanunu que especialistas concluíram que Israel tinha o sexto maior arsenal nuclear do mundo.
Israel não confirma e nem nega possuir o único arsenal atômico do Oriente Médio em uma política de "ambiguidade estratégica". Depois da denúncia, Vanunu fugiu. Ele foi preso na Itália, depois de ser seduzido por Cindy, uma agente dos serviços secretos israelenses no exterior (Mossad). Libertado, Vanunu ficou proibido de viajar para o exterior e de conversar com estrangeiros.
Essas restrições, impostas pela Suprema Corte de Israel, foram condenadas por grupos de defesa dos direitos humanos. Vanunu nega que seja uma ameaça à segurança e afirma que quer viver no exterior.
Esta não é a primeira vez que Vanunu é preso por violar suas restrições. Em 2007, ele foi condenado a seis meses de prisão também por conversar com estrangeiros, mas acabou desobrigado de cumprir a pena.
Judeu convertido ao cristianismo, Vanunu afirma que a negativa de Israel em submeter seu programa nuclear a inspeções internacionais inflama as tensões na região e cria cenário pra um "segundo Holocausto". Ele afirma ainda que o Estado judaico não tem direito de existir.
(Por Dan Balilty, AP / Folha Online, 29/12/2009)