Não é tão fácil encontrar vestígios passados de nuvens quanto de dióxido de carbono. Mas, assim como o CO2, as nuvens desempenham um papel importante na mudança climática: podem tanto reter calor na atmosfera, aumentado o efeito estufa, quanto refletir a luz solar de volta para o espaço, resfriando o planeta.
Então, as nuvens contribuirão para a mudança climática ou ajudarão a atenuá-la? “Neste momento, não entendemos qual é essa relação,” explica Anthony Del Genio, cientista atmosférico da Nasa, que trabalha no Instituto Goddard de Estudos Espaciais, na cidade de Nova York. Mas um novo estudo, publicado na revista Science, dá mais um passo adiante para a compreensão dessa complicada dinâmica, que será vital para se entender detalhadamente como nosso planeta será daqui décadas e séculos.
Quando se trata de prever as mudanças climáticas, nem todas as nuvens são formadas igualmente, ressalta a principal autora da pesquisa, Amy Clement, da Escola Rosentiel de Ciência Marinha e Atmosférica, da University of Miami. Segundo a cientista, as nuvens mais altas, como as cumulonimbus, produzem um efeito estufa (gerando umidade e re-emitindo radiação para a superfície), ao passo que as mais baixas agem de forma semelhante a um guarda-chuva, protegendo a Terra dos quentes raios solares.
Clement e sua equipe examinaram as nuvens estratiformes de baixa altitude sobre o nordeste do Oceano Pacífico. Pela comparação de conjuntos independentes de dados observacionais, acumulados durante os últimos 50 anos por navegantes e satélites, eles esperam entender como os relatos de cobertura de nuvens se relacionam com a temperatura e circulação do vento – e vice-versa. Para a surpresa desses pesquisadores, as observações marinhas e espaciais eram incrivelmente semelhantes, o que contribuiu para o crédito dessas fontes de dados, tachadas por muitos como não confiáveis.
A equipe sistematizou um modelo de clima (no Centro Hadley de Mudanças Climáticas, localizado no Reino Unido) que complementou muito bem seus dados. Esse modelo mostrou que o aquecimento das temperaturas da superfície e a diminuição da circulação de ar – tendências que devem ser mantidas num clima em mudanças – levam a uma menor quantidade de nuvens de baixas altitudes. E isto quer dizer temperaturas ainda mais altas na superfície terrestre.
Mas há ainda muito mais trabalho ainda a ser feito. “Acho que é um fragmento muito impressionante de análise observacional”, afirma Del Genio, que não integrou o estudo. “É a primeira vez que se demonstram essas mudanças através das décadas.” No entanto, complementa, o único modo de sustentar essas conclusões experimentais é a identificação de mais modelos.
É difícil estabelecer um modelo para as nuvens de baixa altitude, admite Clement. “São formadas em uma escala microfísica.” Segundo a pesquisadora, o modelo do Hadley provavelmente foi o mais bem-sucedido, pois continha o maior número de informações sobre os complexos processos ocorridos na atmosfera inferior, onde há contato com a superfície terrestre (uma região, explica Clement, para a qual é muito mais difícil de se construir um modelo do que para a circulação em larga escala presente na atmosfera superior).
E, como sempre, há a questão de como relacionar os eventos climáticos cotidianos às tendências climáticas a longo prazo. Como Clement ressaltou, “ao observar hora a hora os processos que acontecem nas nuvens, obtém-se um quadro muito complexo”. Porém, “os dados, ao serem analisados em uma escala de tempo de décadas, parecem resultar neste quadro muito simples: quando a superfície oceânica está quente e a circulação, pouca, a cobertura de nuvens é reduzida”.
(Por Katherine Harmon, Scientific American Brasil, 16/12/2009)