O investimento garantido pela empresa no país é de US$ 800 milhões, que pode crescer com a perfuração do pré-sal
A anglo-holandesa Royal Dutch Shell vai concentrar no Brasil, a partir de 2010, investimentos pesados que podem somar US$ 1 bilhão só na área de Exploração e Produção (E&P). Uma das maiores do setor, a empresa alcançou em dezembro a marca de 2 milhões de barris de produção acumulada desde outubro no bloco BC-10, na Bacia de Campos.
O presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, revelou ao Brasil Econômico que já negocia a contratação de uma sonda, no exterior, para tentar iniciar, já no próximo ano, a exploração no pré-sal do chamado Parque das Conchas, o conjunto de áreas operadas pela companhia na maior bacia produtora do país.
O vice-presidente de E&P da Shell para o Brasil, o holandês Marco Brummelhuis, revela que a intenção, em 2010, é dar seguimento ao cronograma de perfurações de dez novos poços previstos para a primeira fase do BC-10. Levando-se em consideração um custo entre US$ 50 milhões e US$ 80 milhões para cada poço, a perspectiva é que o investimento em 2010 alcance, inicialmente, os mesmos US$ 800 milhões desembolsados pela companhia em 2009.
Apesar da estimativa, Brummelhuis não revela o investimento total previsto para o país no próximo ano. Mas diz que, se a companhia conseguir uma sonda para perfurar o pré-sal do bloco, o custo por poço nesta fronteira geológica pode chegar a até US$ 180 milhões.
Partindo-se desse princípio, o volume previsto de desembolsos em E&P poderia superar o valor investido em 2009, ao somar US$ 1 bilhão. A intenção, de acordo com ele, é alcançar um reservatório de alta profundidade, batizado de Nautilus, que pode ser unido a outro, conhecido como Mangangas.
O Brasil, revela o presidente da Shell, tornou-se prioritário para os planos da empresa no mundo, apesar das incertezas acerca do futuro da legislação brasileira do setor. Mesmo com a mudança do marco regulatório do país, com a incorporação de quatro projetos de lei para regular as atividades nos campos do pré-sal, a companhia diz confiar na palavra do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para sustentar os planos de expansão no país. O ministro, ressalta Dias, afirmou mais de uma vez reconhecer os direitos assegurados pelas empresas em operação no país.
Tecnologia
A nova condição do país representa uma mudança nos planos da petroleira europeia, que chegou a implementar, no início da década, o enxugamento de boa parte dos investimentos em território brasileiro. Agora, de acordo com Dias, a Shell quer usar o que tem de melhor em termos tecnológicos para não só desenvolver os 15 blocos que detém no Brasil, como também crescer no segmento de combustíveis renováveis.
A empresa também pretende analisar as áreas que vierem a ser leiloadas no país, se o governo autorizar a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a promover a 11ª Rodada de licitações no próximo ano.
Qualquer decisão, ressalva Dias, só será tomada depois de muita análise. Até porque a prioridade é potencializar a produção do BC-10, mantido pela companhia no país juntamente com outros 14 blocos. Além dele, a empresa produz 54 mil barris/dia no campo de Bijupirá-Salema, também na Bacia de Campos.
Na próxima semana, dois novos poços serão perfurados no BC-10, ainda no pós-sal, com uma tecnologia pioneira da própria empresa, que prevê a separação e o bombeio de óleo pesado e gás no mar.
A companhia também pretende aplicar na perfuração do pré-sal a tecnologia de produção desenvolvida há cinco décadas para esse tipo de fronteira geológica. Graças a tal expertise, atualmente provê cerca de 30% da produção total de 4 milhões de barris/dia, no mundo, em áreas no pré-sal.
(Por Ricardo Rego Monteiro, Brasil Econômico, 28/12/2009)