A procura por alimentos orgânicos vem crescendo mais rápido do que a oferta no Brasil. Apenas 1,8% dos agricultores adota esse modelo de produção no país, segundo o Censo Agropecuário 2006, divulgado em setembro deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Existem no Brasil 5,2 milhões de propriedades rurais.
A dificuldade na compra de orgânicos é sentida pelos próprios consumidores, que têm que chegar bem cedo às feiras e supermercados para conseguir esse tipo de produto com qualidade e sem ter que enfrentar filas. Os produtores, por sua vez, alegam que a falta de assistência técnica é a principal barreira para superar a escassez da oferta de orgânicos no mercado.
A falta de investimentos do governo no apoio técnico aos produtores, principalmente por meio das empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural, ocasionaram o surgimento de um modelo diferente de orientação oferecido pelas empresas privadas de fertilizantes e defensivos agrícolas. E, por não usarem substâncias químicas na lavoura, os agricultores orgânicos acabam excluídos desse modelo.
“O desenvolvimento da agricultura orgânica passa, necessariamente, por uma assistência técnica pública”, afirmou à Agência Brasil o coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Rogério Dias. No governo, ele atua como uma espécie de coordenador de ações de estímulo à produção de orgânicos. “Se ela [agricultura orgânica] é interessante, precisa de políticas públicas, e não apenas de produtores investindo sozinhos em seu desenvolvimento”.
O diretor de Política Agrícola e Informação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Silvio Porto, também destaca a importância do assessoramento técnico para o desenvolvimento do setor. Para ele, o atendimento aos produtores ainda é insuficiente. “São poucos os técnicos que têm formação nessa área. Temos uma enorme limitação de assessoramento e falta uma política que, efetivamente, induza o desenvolvimento da agroecologia.”
O financiamento de núcleos de agroecologia em instituições federais de ensino, programado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, poderá contribuir para a redução do problema, com a formação de profissionais especializados e a difusão de pesquisas sobre o tema. Essa é a expectativa da coordenadora da secretaria, Caetana Resende.
“Queremos casar as duas coisas: formação de recursos humanos para dar assistência a essa produção, e levar aos produtores o que já existe [em termos de informação], para que eles possam escolher que tipo de produção vão ter dentro de sua propriedade”, explicou. De acordo com o Censo Agropecuário, o agricultor que se dedica a essa prática, na maior parte dos casos, é proprietário das terras que cultiva (77,3%). Ainda conforme o censo, 41,6% têm o ensino fundamental incompleto e dois em cada dez não sabem ler nem escrever.
O secretário de Inclusão Social do Ministério de Ciência e Tecnologia, Joe Valle, que trabalha com orgânicos há mais de 20 anos, aponta outra barreira: o despreparo de funcionários de instituições financeiras que operam com linhas de crédito para o setor rural. “Já temos, em vários lugares, linhas de crédito específicas para orgânicos, mas falta conhecimento dos funcionários dos bancos.”
(Por Danilo Macedo, com edição de Lana Cristina e Nádia Franco, Agência Brasil, 28/12/2009)