Artigo publicado nesta quinta (24/12) revela que espécies animais e vegetais terão de percorrer uma média de 42 km ao ano para se adaptar ao clima
Quanto mais as espécies tiverem de mudar para se adaptar, maior a chance de extinção
Diversos ecossistemas da Terra, com todas as suas plantas e animais, terão de se deslocar cerca de 42 km quilômetros por ano, em média, para acompanhar o ritmo da mudança climática global, disseram cientistas em um estudo divulgado nesta quarta-feira.
A possibilidade de sobrevivência de uma espécie a um aumento de temperatura no mundo - atribuído a níveis excessivos de calor, por conta da emissão de gases "efeito estufa" – depende da capacidade dos indivíduos de migrar ou adaptar-se a outro lugar.
Quanto mais as espécies individuais - de arbustos e árvores a insetos, aves ou mamíferos – precisarem se mudar para permanecer dentro de seu clima preferido, maior a chance de extinção.
O estudo sugere que os cientistas e os governos devem atualizar as estratégias de conservação de habitats, enfatizando os limites em torno de áreas ambientalmente sensíveis e restringindo as áreas de desenvolvimento dentro dessas fronteiras.
Um foco mais "dinâmico" deve ser colocado sobre o estabelecimento de corredores de fauna e vias de ligação entre habitats fragmentados, disse a co-autora da pesquisa, Healy Hamilton, da Academia de Ciências da Califórnia. "As coisas estão em movimento, mais rápido do que prevíamos", disse ela à Reuters. "Esta taxa de mudança do clima projetada é o mesmo que um meteorito viajando em câmera lenta, em termos da velocidade em que ela está pedindo respostas de adaptação das espécies”, compara Healy.
A nova pesquisa sugere que os habitantes dos habitats das montanhas irão experimentar taxas mais lentas de mudança climática porque eles podem rastrear variações relativamente grandes de temperatura, movendo-se a uma curta distância para cima ou para baixo no declive. Assim, as paisagens de montanha "podem, efetivamente, servir de abrigo para muitas espécies para o próximo século ", escreveram os cientistas no estudo, publicado na edição desta quinta da revista Nature. O que é especialmente importante para espécies de plantas, que devido a seu enraizamento na terra não podem migrar no ritmo dos animais em resposta a alterações de habitat.
As alterações climáticas serão sentidas mais rapidamente pelos habitantes das paisagens das grandes planícies, tais como manguezais e pradarias de pastagem, onde a taxa de aquecimento pode dobrar a média de migração de 42 km ao ano calculada para os ecossistemas em geral. Quase um terço dos habitats estudados experimentam taxas de mudança de clima superiores à estimativa de migração mais otimista contida no relatório.
Desertos da planície estão igualmente sujeitos a uma maior velocidade das alterações climáticas. Em contrapartida, a maior parte dos habitats florestais e das pastagens do mundo já foram severamente fragmentados pela ação humana, tornando a mitigação das alterações climáticas mais difíceis e deixando suas espécies mais vulneráveis.
As velocidades de traçado no relatório foram baseadas no grau intermediário de emissões de gases de efeito de estufa projetadas para o próximo século pelo Painel Intergovernamental do Clima da ONU (IPCC).
(Por Steve Gorman, Reuters / Estadao.com.br, 24/12/2009)