Especialistas em meio-ambiente assumem o fracasso de Copenhague, mas mantêm a convicção de que na sequência da conferência os cidadãos intensificarão hábitos ecológicos e funcionarão como o motor que forçará os governantes a comprometerem-se seriamente com os problemas ambientais.
Para Viriato Soromenho-Marques, conselheiro do Presidente da Comissão Europeia para as alterações climáticas, "um dos indicadores mais interessantes" relacionados com a conferência da ONU, que aconteceu no início deste mês em Copenhague, foi a quantidade de notícias e reportagens feitas em regiões, cidades, empresas, bairros, que refletiam preocupações ambientais.
"A grande mobilização de Copenhague só foi possível por haver esta sinergia com o público. Isto foi verdade até Copenhague, mas a conferência [sobre alterações climáticas que reuniu representantes de 192 países] foi um insucesso. Até que ponto se pode fazer com que as pessoas mudem os hábitos?", questiona, para dar de imediato a resposta: "Sou da opinião de que Copenhague não terminou, que há uma dinâmica que vai continuar e completar o que Copenhague não conseguiu".
Daqui a um ano vai ser realizada no México a 16ª Conferência das Partes das Nações Unidas, e pelo meio haverá uma reunião preparatória em Bonn, na Alemanha, e "várias outras etapas até final de janeiro".
Espera-se que os países entreguem suas promessas de redução das emissões de gases estufa, que o senado norte-americano aprove a lei sobre energia e clima e que a União Europeia prossiga os seus esforços no sentido de convencer os países da necessidade de um acordo ambiental vinculativo.
Esta nova dinâmica da sociedade civil que vai criar mais pressão junto aos governos para que cumpram a sua parte, considera Soromenho-Marques. Porém, ele alerta que se não houver no próximo ano um acordo mundial vinculativo, provavelmente se assistirá a uma redução de comportamentos e práticas.
Desilusão
Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus, entende que as pessoas ficaram acima de tudo desiludidas com os políticos, mas perceberam que o problema existe e que é grave.
"Estou convencido de que Copenhague não recuou as expectativas e necessidades de acção, antes pelo contrário, as pessoas perceberam que há muito a fazer", afirmou, acrescentando que talvez por desilusão com as posições políticas esperadas e não tomadas no âmbito da conferência, sintam que têm que se esforçar ainda mais.
No entanto, os dois especialistas reconhecem que é preciso haver empenho político, não sendo possível estar a pedir às pessoas que andem de transportes públicos, sem que haja uma rede de fácil acesso e com preços acessíveis, ou que invistam em energia solar, se não houver financiamento do Estado.
(Lusa / UOL, 25/12/2009)