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aparelhos celulares pilhas e baterias lixo tecnológico / eletrônico
2009-12-28

Apesar de orçamentos de publicidade bilionários, as operadoras de celular não conseguem comunicar eficientemente a seus clientes sobre a reciclagem dos cerca de 40 milhões de aparelhos aposentados por ano. Assim, contribuem com a geração de 500 mil toneladas de lixo eletrônico no Brasil anualmente, apurou a Revista Sustentabilidade.

Os investimentos anuais das operadoras de telefonia móvel em publicidade beiram R$2 bilhões, o suficiente para dispor de um arsenal publicitário que inclui inserções de peças em horário nobre na televisão, rádio, revistas, jornais, Internet, outdoors, redes sociais, cartões telefônicos e até nas contas e call-centers das empresas. Mas, segundo dados levantados pela Revista Sustentabilidade, a reciclagem atinge apenas 2% do mercado de troca de celulares (considerando apenas o destino final dos aparelhos e baterias, o que exclui o mercado secundário).

É comum casos como o de Patrícia Silva, representante comercial, que não tem informação sobre o melhor destino a dar após a troca de aparelho ou de operadora. "Tenho cinco aparelhos em casa e não sei o que fazer com eles," disse ela à Revista Sustentabilidade.

A aposentadoria de celulares antigos é parte intrínseca da estratégia comercial tanto das operadoras quanto dos fabricantes de aparelhos, pois o avanço tecnológico combinado com a convergência digital, fazem com que o ciclo de inovação fique cada vez mais curto, sem contar que o lançamento pelas operadoras de novos planos e promoções de oportunidade em datas importantes para o comércio como Natal ou Dia das Mães fazem do celular o objeto de desejo número um dos consumidores brasileiros.

A GM&C Logística, líder no mercado de recolhimento dos aparelhos celulares, contratada pelas próprias operadoras, coletou 1,5 milhão de baterias e 500 mil aparelhos nos 10 mil pontos de coleta das principais operadorasdesde o início de 2009. No Brasil, existem sete operadoras que controlam um mercado crescente em números e em tecnologia. Hoje, os 190 milhões de brasileiros são proprietários de 168 milhões de aparelhos, um mercado que cresce a uma taxa entre 15% a 25% ao ano.

Para prestar o serviço de telefonia, as operadoras apoiam-se em acordos comerciais com cerca de 10 fabricantes de aparelhos celulares para reduzir o custo da assinatura das linhas. A cada dois anos, em média, lançam novos modelos cada vez mais potentes e multifuncionais, estimulando o abandono de celulares considerados ultrapassados. Mesmo assim, a responsabilidade de garantir um destino correto dos equipamentos descartados é compartilhado com as operadoras.

"Hoje a responsabilidade não é somente do poder público, ela tem que ser compartilhada entre o governo, as empresas e os consumidores, porém os consumidores dependem dos outros dois para poderem agir. Tanto no que diz respeito a ter um local para entregarem aparelhos e baterias, quanto em serem informados sobre essas possibilidades", afirmou Lisa Gunn, coordenadora executiva do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC).

A comunicação sobre reciclagem existe, mas é ineficiente. O gancho para esta reportagem se deu no dia em que um dos membros da redação recebeu um 'torpedo' da operadora Claro explicando que poderia entregar o celular velho em lojas e postos da empresa, garantindo o destino correto.

A Revista Sustentabilidade decidiu averiguar com o seus leitores se eles tinham tido a mesma experiência. Perguntamos em uma enquete se os leitores sentiam-se bem informados sobre a possibilidade de reciclagem, fosse por meio de mensagens SMS regulares de promoção de produtos ou por outros meios. Dos 662 leitores que responderam à enquete durante as 10 semanas que ela esteve no ar, cerca de 90% deram um simples não à pergunta: Você já recebeu alguma informação sobre o destino correto para seu celular velho da sua operadora?

"Mesmo as empresas que fazem alguma coisa neste sentido não divulgam aos consumidores", afirmou a coordenadora executiva do IDEC. "São elas quem deveriam informar sobre as possibilidade de destinação do equipamento pós-consumo, o que nem sempre acontece."

De fato, campanhas publicitárias existem. A Vivo por exemplo, líder do mercado com um participação de 29% do setor telefonia móvel, veiculou na TV, em janeiro de 2009, um anúncio de um minuto que falava sobre reciclagem. O vídeo está disponível no Youtube, e já teve cerca 900 mil visualizações. "Quando houve a expansão das urnas de coleta para todos os pontos de venda, a comunicação acompanhou esse crescimento", disse Juliana Limonta, consultora de responsabilidade socioambiental da empresa.

Segundo a Vivo, todas as lojas autorizadas deveriam ter pontos de coleta. A Vivo iniciou um projeto piloto de recolhimento e reciclagem de celulares em 2006, com 58 pontos de coleta. Hoje a operadora informa que mantém coletores em todas as suas 3400 lojas.

Segundo a consultora, a operadora também informa sobre reciclagem nas faturas dos clientes pós-pagos e envia SMS aos clientes que trocaram os aparelhos recentemente. Este esforço ajudou a melhorar a taxa de coleta de celulares que perderam a corrida da modernidade. Segundo a empresa, desde 2006, foram recolhidos 900 mil aparelhos. Assim, na enquete, a Vivo foi reconhecida pelos leitores da Revista Sustentabilidade como a segunda melhor comunicadora sobre reciclagem, recebendo 3% dos votos totais.

"A Vivo foi a que mais investiu em reciclagem, não é qualquer operadora que faz um vídeo para ser divulgado em horário nobre e temos o programa que mais recolheu equipamentos", garantiu Limonta. Mesmo com todo este esforço, a quantidade de celulares reciclados no Brasil inteiro é menor que as cerca de 700 mil novas linhas que a Vivo vendeu em outubro de 2009.

A Umicore, empresa europeia que recicla a maioria dos celulares brasileiros, informou que em quatro anos destinou para reciclagem na Bélgica, 200 toneladas de eletroeletrônicos em geral, incluindo aí celulares. Em 2008, a empresa exportou 50 toneladas de aparelhos e 90 toneladas de baterias de celulares de várias operadoras no Brasil para a reclicagem belga.

Na rua
Para averiguar o andamento dos programas de reciclagem, a reportagem da Revista Sustentabilidade visitou alguns pontos de todas as operadoras. Em uma loja da Vivo, na cidade de Araras, no interior de São Paulo, a repórter foi aconselhada a jogar o aparelho no lixo e informada de que a Vivo só coleta a baterias usadas para reciclagem. 'Jogar no lixo' significa que o aparelho vai para um lixão ou aterro sanitário, onde se decompõe por ação da natureza.

Um celular é composto majoritariamente de plástico (50%), mas seus componentes incluem cobre (15%), cerâmica e vidro (15%), cobalto, lítio e carbono (4% cada) e metais ferrosos (3%). O resto é composto de estanho, chumbo, prata, cadmio, cromo, tântalo, e até traços de ouro.

Fazendo o cálculo de um aparelho celular, que na média pesa 100 gramas, ele contém 15 gamas de cobre e 0.5 gramas de prata. Se todos os 40 milhões de celulares descartados fossem reciclados, teríamos, no final de um ano, 600 mil quilos de cobre e 20 mil quilos de prata.

Especulação à parte, além do desperdício de recursos minerais, estes elementos - a maioria metais pesados e altamente perigosos para a saúde dos seres vivos - acabam no meio ambiente. Enquanto o efeito nocivo à saúde humana do chumbo é conhecido por muitos, a exposição a doses altas de lítio podem causar problemas na tireóide e rins.

Os dados da enquete, com suas limitações estatísticas, não difere de informações provenientes de pesquisas do próprio IDEC, realizadas em abril de 2009, que foram até mais abrangentes, incluindo o descarte de televisores e computadores e constatando que falta informação sobre o destino correto em mais de 85% das respostas obtidas.

Apesar de ser um problema setorial, e abordado em legislações estaduais e em regulamentações do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a Associação Nacional das Operadoras de Celulares (ACEL) optou por não se manifestar sobre o assunto, afirmando que as ações competem a cada empresa separadamente. Enquanto isso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não menciona reciclagem em sua página falando de cuidado sobre aparelhos e baterias.

Consultada pela reportagem sobre a enquete, a operadora Claro, que obteve o maio número de votos na enquete (33 ou 5% dos votos), informou que resolveu mandar 'torpedos', pois percebeu que os canais até então usados para comunicação do programa de reciclagem estavam dando resultados muito lentos. "Ficou muito evidente que falta esclarecimento", garantiu a vice-presidente do Instituto Claro e gerente de responsabilidade corporativa da empresa, Carime Kanbour. "As pessoas têm predisposição para fazer a destinação correta, mas não sabem o que fazer e nem como fazer."

Além do SMS, a Claro comunica pelo envelope da conta dos clientes pós-pagos, no cartão de recarga dos clientes pré-pagos, por e-mail marketing e informativos nas lojas, disse Kanbour. Ela relatou que apesar dos coletores estarem disponíveis nas lojas da operadora desde março de 2008, foi só em outubro do mesmo ano, quando o trabalho de comunicação para todos os clientes se intensificou, que o número de itens coletados triplicou.

Economia
Há, por detrás desta questão toda, um desafio econômico importante, enfrentado por todo o setor de eletroeletrônicos, inclusive o de pilhas e lâmpadas, que é o de coletar equipamentos descartados em mercado tão difuso geograficamente e de alta penetração na população.

Representantes do setor de eletroeletrônicos chegam a dizer que a coleta integral do material descartado pós-consumo custaria mais caro que a fabricação de novos produtos. Com isto em mente, o setor começa a se organizar frente às mudanças na legislação, como o projeto da política nacional resíduos sólidos que prevê a logística reversa dos eletroeletrônicos, entre outros produtos.

A Associação Brasileira da Fabricantes de Eletroeletrônicos (Abinee), por exemplo, já formou um comitê especial para estudar a questão, enquanto aumenta o número de participantes do novo comitê temático do Compromisso Empresarial pela Reciclagem (Cempre). Enquanto isso, o acesso da população às informações sobre reciclagem continua incerto. Entre os principais canais citados pelas operadoras, estão os portais de Internet, mas, na maioria deles, a informação sobre reciclagem não é tão facilmente encontrada.

A Oi fornece informações sobre reciclagem na página de Internet da operadora, mas sem destaque, na seção "Institucional", que fica dentro da seção "Sobre a Oi". Consultada, a Oi não concedeu entrevista, mas informou que disponibiliza pontos de coleta em todas suas lojas próprias e que comunica a ação exclusivamente pelo site.

Glória Rubião, gerente de sustentabilidade da Tim Brasil, informou que está estudando uma mudança de sua estratégia para reciclagem, pois a colocação de pontos de coleta nas lojas surtiu um efeito menor que o esperado. Inicialmente, a empresa acreditava que por um ponto de coleta nas lojas da empresa já seria uma forma eficiente de comunicação e que isso estimularia a ação do consumidor, disse Rubião.

A empresa italiana também envia mensagens no Twitter e newsletters para clientes de planos pós-pago desde o segundo semestre de 2009. A partir de 2010, a Tim pretende abordar também os clientes pré-pagos. A Nextel e a CTBC não se manifestaram sobre a enquete.

Para Anselmo Lucas, pesquisador de TI verde e professor da disciplina na Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid), falta uma estratégia mais focada no problema, como a de alguns fabricantes de material de informática. "A disponibilização de um desconto para a compra de um novo aparelho ou a conversão de um valor simbólico do celular antigo em créditos ou bônus para o cliente faria com que mais pessoas aderissem à reciclagem", sugeriu Lucas.

Além do custo da logística, outro gargalo é o industrial. Apenas a Suzaquim - a principal empresa brasileira de reciclagem de baterias, localizada na região metropolitana de São Paulo -, tem escala para processar as baterias. A empresa não informou o volume reciclado anualmente.

Não há no Brasil uma indústria de reciclagem de celulares. A GM&C Logística, que coleta os aparelhos, faz apenas um pré-processamento e depois vende o material para empresas recicladoras de fora do país que retiram os metais valiosos. Faltam investimentos da inciativa privada ou do governo para implentar unidades de reciclagem para esses materiais. Entre as operadoras, a única que informou estar fazendo algo neste sentido é a Sercomtel, que tem cerca de 90 mil clientes em algumas cidades da Região Norte do Estado do Paraná.

Há quatro anos, a empresa paranaense firmou uma parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para desenvolver um equipamento capaz de testar as baterias dos celulares de clientes e realizar a reciclagem energética delas, um jeito de aumentar a vida útil do equipamento.

Segundo Oscar Bordin, vice-presidente da operadora, ela disponibiliza coletores de baterias nas suas lojas, na UEL, em algumas empresas de Londrina, divulga as possibilidades de reciclagem no rádio e televisão e que oferece brindes aos clientes que participarem da ação. A operadora também desenvolveu um material didático sobre baterias, que é entregue ao cliente quando ele adquire um novo aparelho.

"Os manuais dos aparelhos não informam sobre as baterias, sobre qual o primeiro tempo de carga como avaliar se é a bateria ou o equipamento que esta com defeito e como descartar", afirmou Bordin. "Todos esses procedimentos estão no nosso material." A apesar das ações relativas às baterias, a empresa ainda não abordou o problema do descarte dos aparelho como um todo.

(Por Fernanda Dalla Costa, Revista Sustentabilidade / Portal do Meio Ambiente, 26/12/2009)


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