Nunca ouvimos falar tanto sobre a emissão do carbono e outros gases e seus efeitos sobre a atmosfera terrestre. A imprensa de um modo geral corre atrás para tentar explicar como e por quem são gerados os gases que provocam o efeito estufa e suas consequencias para o aquecimento global. Mas sequer entre os estudiosos há consenso.
Portanto este é um debate que aos poucos vai tomando conta da agenda da sociedade e, portanto, da pauta dos veículos de comunicação que tentam reproduzi-lo ou até mesmo influencia-lo.
Por enquanto há mais perguntas do que respostas. Reunidos na Conferência de Copenhague – a COP 15, representantes de 194 nações constataram que há mais dissensos do que consensos que levassem a um acordo sobre as metas de redução dos gases que aquecem a temperatura média terrestre. A Agência Brasil cobriu o evento mas ainda não aprofundou a apuração sobre o assunto conforme prometeu a seus leitores em novembro passado.
Naquela oportunidade o leitor Mauri Alexandrino escreveu para esta Ouvidoria solicitando esclarecimentos sobre a notícia Cada brasileiro emite por ano 10 toneladas de gás carbônico, informa Inpe, publicada dia 18 de novembro. A Agência respondeu que a afirmação havia sido feita pelo “cientista Carlos Nobre em depoimento ao Congresso Nacional.
O cientista não apresentou, na ocasião, a metodologia de seu estudo.”, mas comprometeu-se em apurar a informação “para melhor compreensão do assunto.” Sem a informação de como o cientista chegou à essa conclusão a sua declaração ficou sem sentido para os leitores e assim permanece até o presente momento.
Especificamente em relação à emissão de de gases de efeito estufa, a matéria Especialista contesta estudo que aponta pecuária como responsável por 50% das emissões brasileiras , publicada dia 14 de dezembro, mostra apenas que sequer entre os estudiosos há unanimidade sobre a forma de calcular e de explicar as suas possíveis causas.
Diversos estudos comprovaram que a emissão de gases que provocam o efeito estufa está intimamente associada aos processos produtivos que geram os produtos e serviços que consumimos, ou seja, envolve nosso modo de vida e de consumo que revela-se cada vez mais insustentável tanto do ponto de vista ambiental quanto social e econômico. Mas, explicar como isso ocorre na prática, em linguagem que o cidadão compreenda, é o grande desafio.
A ABr publicou o infográfico Um novo acordo pra o clima bastante esclarecedor sobre as negociações em curso, elaborado a partir de informações fornecidas pela organização ambientalista Greenpeace. Em outro, que mostra a linha do tempo, são expostas as diversas etapas de como evoluíram essas negociações, mas a essência do que está sendo discutindo ainda carece de um aprofundamento para que o leitor possa entender e se posicionar sobre as politicas publicas que visam a amenizar o problema.
Tudo leva a crer que a humanidade está chegando a uma encruzilhada em que decisões que afetarão a vida de todas as pessoas precisam ser tomadas. A ciência, a economia e a politica, bem como as demais atividades humanas tentam encontrar alternativas que mudem os rumos da história, mas qualquer decisão coletiva dependerá fundamentalmente das decisões que cada indivíduo tomará e para isso é preciso mais do que nunca de informação de qualidade, livre dos interesses de poderosos grupos econômicos.
Daí a necessidade da agência pública aprofundar a apuração para qualificar este debate – esse não é apenas mais um assunto da pauta, mas talvez seja o assunto decisivo para o momento histórico em que vivemos.
Como disse o economista Paulo Timm em sua coluna COP15 – Balanço e prespectivas, publicada em 21/12/09, no site www.cartapolis.com.br : “Não será apenas o fracasso de uma reunião de grande líderes que poderá salvar ou condenar o planeta. Essa responsabilidade é do conjunto da sociedade: cidadãos, famílias, sociedade organizada, empresas, Ongs etc. O formato, aliás, da Reunião de Copenhague é que está errado. Continuamos insistindo em modelos de representação e tomada de decisões que já não respondem às exigências de uma sociedade altamente tecnológica e com processos decisórios cada vez mais complexos.
O homem dito público, neste modelo, está em crise há tempos. Há uma contradição insanável nas sociedades republicanas modernas entre o processo de representação e a genealogia de uma elite beneficiária desse processo: Partidos políticos, administradores eleitos por períodos e representantes parlamentares detentores de mandatos delegados que se eternizam em seus cargos e impedem o aprofundamento da verdadeira democracia.
Assim, o sistema político, no mundo inteiro, entra em crise de legitimidade e perde sua capacidade para tomar decisões que realmente interessam à sociedade. Representa, sim, cada vez mais, os grupos de interesses altamente organizados, primeiro deles o do mundo econômico que imprime o culto ao sacrossanto dinheiro, através do qual se chega ao PIB.”
(Por Paulo Machado, Agência Brasil, 26/12/2009)