Bioma terá de migrar três vezes mais rápido que a média para manter temperatura. Cálculo foi feito por grupo americano; corredores de biodiversidade devem ser complementares a corte de emissão, diz cientista
Pesquisadores dos EUA calcularam a velocidade com que os ecossistemas do mundo inteiro terão de migrar para se adaptarem à mudança climática. E têm uma má notícia para o Pantanal: ele precisará se deslocar três vezes mais rápido que a média, o que o coloca em risco aumentado de colapso. Para poderem se manter a uma temperatura constante à medida que o aquecimento global avança, as espécies do Pantanal precisarão se deslocar, em média, 1,26 km/ano, contra 0,42 km/ano da média global.
Embora os pesquisadores não falem em extinções em massa em seu estudo, eles deixam claro que alguns ecossistemas terão grandes dificuldades para se adaptar ao novo clima. Segundo a pesquisa, publicada hoje no periódico "Nature", 28,8% dos biomas da Terra precisarão migrar a uma velocidade maior do que 1 quilômetro por ano para escapar do calor.
"Esse número é importante porque 1 km/ano é a estimativa mais otimista de velocidade de migração dos ecossistemas após o fim da última glaciação", disse à Folha Scott Loarie, da Universidade Stanford (EUA), coautor do estudo. O fim da Era do Gelo, há 10 mil anos, foi a mudança climática mais rápida dos tempos recentes -e levou a uma extinção em massa. Loarie e colegas usaram dados de vários modelos climáticos para estimar as mudanças de temperatura na superfície do globo durante este século, e cruzaram-nos com gradientes de temperatura atuais.
Com o aquecimento estimado em cerca de 3C até o fim do século em relação à era pré-industrial (caso os níveis de gases-estufa dobrem na atmosfera), as zonas climáticas hoje existentes serão deslocadas para os polos e para altitudes grandes. Se quiserem se manter na mesma temperatura, as espécies precisarão migrar.
Até agora, vários estudos sugeriam que os ecossistemas de montanha fossem as zonas mais vulneráveis, uma vez que as espécies dessas regiões não têm mais aonde ir. No entanto, o novo estudo mostra que a velocidade de temperatura em regiões planas é maior do que nas montanhas. "Espécies que habitem a Amazônia, por exemplo, terão de ir muito mais longe para se manterem na mesma temperatura, já que a floresta é bastante homogênea", explica Loarie. "A questão é: essas espécies poderão se mudar a tempo?"
Segundo o pesquisador, criar e manter áreas protegidas e corredores de biodiversidade tem de ser uma estratégia complementar à redução de emissões, já que, em alguns casos, o que está no caminho dos biomas em fuga são os humanos. O Pantanal é um exemplo. "As bordas do Pantanal estão tomadas por plantações de cana e soja. Como as espécies se deslocarão no futuro?"
Mais uma vez, ele evoca a Era do Gelo. "As plantas puderam recolonizar o mundo após a glaciação porque alguns refúgios de biodiversidade sobreviveram em meio a um mar de gelo. Então, pequenos bolsões de vegetação nativa em um mar de soja são importantes."
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 24/12/2009)