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tartarugas Indígenas da Amazônia extinção de espécies
2009-12-23

Um projeto coordenado pela The Nature Conservancy (TNC-Brasil) está capacitando as populações indígenas de Oiapoque (Amapá) a preservar o tracajá, uma espécie de tartaruga que atualmente figura na lista de animais em risco de extinção. Para falar sobre a experiência do projeto, o site Amazonia.org.br conversou com Marcio Sztutman, gerente do Programa Indígena da TNC - Amazônia.

Segundo Sztutman, o projeto foi uma demanda das lideranças indígenas, e desde que começou cerca de 400 filhotes foram soltos por ano. Confira a entrevista.

Amazonia.org.br - Conte um pouco sobre o projeto de conservação que vocês desenvolvem na Amazônia.
Marcio Sztutman -
A gente ta trabalhando no norte do Amapá, em Oiapoque, no projeto de conservação do tracajá.  É um projeto feito em parceria com a associação indígena local junto a quatro povos indígenas.  É um projeto temático, de uma espécie, que está localmente ameaçada.

Tracajá é uma espécie de tartaruga?
Sztutman -
Não é a tartaruga da Amazônia, aquela grande.  É uma tartaruga aquática, menorzinha, chega a uns 40 centímetros, é amplamente distribuída na Amazônia e amplamente consumida também.

O que mais ameaça essa espécie?  Por que ela está ameaçada?
Sztutman -
Grande parte em função do uso que é feito pelas populações locais, tanto de adultos quanto de ovos, para fazer bolo, tem uma série de receitas e são bastante apreciados na culinária.  Dados indicam que em alguns ninhos cerca de 90% dos ovos são predados pelo próprio homem, além da predação natural, por formigas e aves. É uma espécie de ampla distribuição, mas foi incluída na lista de espécies ameaçadas.  Então acredito que tenham dados de diversas regiões com declínio populacional.  Mas eu não acho que seja uma espécie em risco eminente. 

É mais um alerta em termos de intensidade de uso.  Não é que tem só duzentas espécimes da Amazônia, tem muito mais do que isso, só que o padrão de uso hoje, caso não for alterado, pode levar a uma situação mais delicada. A gente chama esse projeto de etnoconservação de tracajás.  E o nome etnoconservação é porque se trata de um projeto de conservação feito sob o olhar étnico das populações indígenas envolvidas.  Um dos componentes é a educação e o outro é o manejo da paisagem.

Como funciona esse manejo da paisagem?
Sztutman -
Nós trabalhamos com o conceito de zoneamento.  Dentro da terra indígena são identificados os locais onde os tracajás desovam, porque não é distribuído homogeneamente na paisagem.  São selecionadas algumas praias, ilhas, alguns locais que tem muitos ovos de tracajás.  Identificando esses locais, facilita para que as comunidades estabeleçam acordos de uso de uma ilha: por exemplo, é proibido coletar ovos nessas ilhas que têm os maiores índices de desova de tracajá, então a gente garante uma fonte protegida.  Os acordos de uso permitiriam a coleta de adultos fora desta zona.  Com isso, se garante que o ciclo está sendo feito, assegurando as áreas fonte e a coleta em áreas fora dessa zona fonte.

Quais os resultados do projeto?
Sztutman -
Foram três anos, três ciclos.  Um resultado é o zoneamento, o outro é ligado à educação ambiental, e parte de iniciativas do próprio Ibama que trabalham com a coleta de ovos, replantio desses ovos em áreas seguras e solturas nos rios e lagos.  É um projeto de repovoamento. Nós fazemos isso também nessa região, com algumas modificações para atender as particularidades indígenas.  Quando nascem os filhotes, eles são distribuídos para diferentes famílias, que cuidam de quatro ou cinco filhotinhos por um período de três meses, até que a casca fique um pouco mais dura, portanto menos suscetível a ataques de predadores.  Depois são soltos nos rios e lagos junto com as escolas e professores.  É uma atividade que junta educação ambiental e povoamento.

Do ponto de vista biológico, o que é mais efetivo é o processo de zoneamento.  Mas para envolver e fazer os acordos de uso, a gente entende que o trabalho com as escolas, com uma ligação mais afetiva com os filhotes, é um bom caminho.  Alguns biólogos criticam parcialmente a prática de coleta de ovos e soltura, porque a profundidade que você enterra os ovos da tartaruga influencia na determinação do sexo. 

Se forem coletados 100% dos ninhos, vai ter uma grande probabilidade de estar alterando a proporção de machos e fêmeas.  Por isso nosso enfoque não é coletar um número excessivo de ninhos, mas uma coisa passível de envolver as crianças e as lideranças.  Ajuda a povoar o rio?  Sim.  Mas a gente entende que a ferramenta mais poderosa para proteger as espécies é o zoneamento.

Foram feitos três ciclos de coleta e soltura.  Uns 400 filhotes por ano foram soltos e o processo de zoneamento está em andamento, são ações de médio e longo prazo.  São feitos planos de uso, oficinas, existem propostas de mapeamento e zoneamento, e vai levar mais meio ano até se chegar aos acordos.  Só então poderemos medir de fato a efetividade do projeto sobre as populações de tracajás.

Como que a população indígena recebeu o projeto, como eles participam?
Sztutman -
Foi uma demanda deles.  A gente trabalha com esses grupos desde 2000, e em um seminário em 2001 foi relatado por boa parte das lideranças indígenas o declínio de populações, entre elas do tracajá.  Escolheu-se o tracajá como espécie piloto para fazer o trabalho de manejo.  Foi praticamente uma solicitação das lideranças locais, através da Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque, pedindo apoio para desenvolver técnicas, e formas de manejo e regras de uso, e garantir que eles tenham esse recurso para o futuro.

Saiba quais são as esécies ameaçadas na Amazônia aqui.

(Por Bruno Calixto, Amazonia.org.br, 22/12/2009)


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