A FAPESP e a Vale S.A. assinam, nesta quarta-feira (23/12), um acordo de cooperação científica e tecnológica em cerimônia na sede da Fundação, em São Paulo. O convênio apoiará a pesquisa científica, tecnológica ou de inovação a ser desenvolvida em áreas como mineração, energia, biodiversidade e produtos ferrosos para siderurgia.
A previsão de investimentos é de até R$ 40 milhões, sendo metade proveniente da FAPESP e metade da Vale. Os temas contemplados no acordo, alguns bastante abrangentes, refletem a complexidade das atividades da Vale e desafios que a companhia enfrenta. “Essa amplitude abre múltiplas oportunidades para pesquisa em várias áreas do conhecimento”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Segundo Brito Cruz, o acordo de cooperação é mais uma oportunidade que a FAPESP oferece à comunidade de pesquisa do Estado de São Paulo de participar de temas de pesquisas relevantes para uma grande empresa e para a sociedade brasileira.
“A FAPESP investe tradicionalmente na formação de recursos humanos e no apoio à pesquisa acadêmica em todas as áreas do conhecimento e, ao mesmo tempo, considera importante fomentar a pesquisa em projetos que explorem as possibilidades de interação entre universidades e empresas”, afirmou.
A Fundação, lembra Brito Cruz, firmou recentemente acordos de cooperação com companhias como Microsoft, Dedini, Braskem e Sabesp, entre outras. O acordo de cooperação FAPESP-Vale tem foco “no desenvolvimento de tecnologias e processos capazes de mudar paradigmas dentro de empresa”, segundo Luiz Eugênio Mello, diretor do Instituto Tecnológico Vale (ITV), o braço de pesquisa da mineradora.
Segundo ele, a Vale, que é a maior empresa privada do país e a segunda maior mineradora do mundo, pretende, com o acordo, aproximar-se de cientistas de instituições paulistas, a fim de desenvolver pesquisa de fronteira em áreas consideradas estratégicas. “Não se trata de obter apenas ganhos incrementais ou pontuais, pois, para isso, continuaremos investindo em pesquisa própria e em parcerias com universidades e pesquisadores”, disse à Agência FAPESP.
Mello, que é professor do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), afirma que um dos principais objetivos da parceria é levar para a empresa o conhecimento produzido nas universidades e nas instituições de pesquisa, adotando um modelo de inovação aberta.
A Vale investiu, em 2008, US$ 38 milhões em convênios para desenvolver projetos de interesse da empresa. A empresa aplicou, naquele ano, US$ 1,13 bilhão em pesquisa e desenvolvimento – com um faturamento de US$ 38,5 bilhões – e tem em seus quadros cerca de 500 pesquisadores no Brasil e no exterior, sendo a metade deles de doutores. “Temos parcerias com a Universidade de São Paulo na área de logística, com a Federal de Minas Gerais em hidrometalurgia e com a Federal de Ouro Preto em mineração”, disse Mello.
Mello ressalta que a parceria com a FAPESP se justifica pelo tamanho da comunidade científica de São Paulo, que é a maior no país e responde por 51% do número de artigos publicados em revistas internacionais indexadas, e a experiência da Fundação na colaboração com empresas.
Áreas de pesquisa
O acordo entre a FAPESP e a Vale engloba uma ampla gama de temas de pesquisa, mas a lista tem um caráter indicativo. Algumas das áreas contempladas, como a busca de novas rotas de biocombustíveis e a contabilidade ambiental, são totalmente novas para a Vale. “Outras, como a melhoria da eficiência energética e a biodiversidade, já eram alvos de parcerias com pesquisadores. E também há áreas, como a de geotecnia, em que temos pesquisa própria, mas consideramos que um olhar externo pode nos beneficiar”, apontou Mello.
No campo da mineração, o acordo indica como área prioritária, por exemplo, a busca de métodos de prospecção mineral por sensoriamento remoto e estudos sobre a formação geológica de cavernas e sobre as espécies que as habitam. No campo da energia, o objetivo é desenvolver novas rotas de obtenção de biocombustíveis, por meio de algas e resíduos florestais – uma área em que a Vale não tem expertise –, até estudar modelos capazes de melhorar a eficiência da geração hidrelétrica, entre outros.
A lista inclui também pesquisas no campo da ecoeficiência e biodiversidade, a fim de acelerar a recuperação de ambientes degradados ou reduzir os danos ambientais das atividades da empresa, além de aperfeiçoar o uso de recursos hídricos e identificar materiais sustentáveis para uso em construções próximas às minas.
Pesquisas sobre produtos ferrosos para siderurgia – visando ao aprimoramento dos processos de obtenção da matéria-prima – e o desenvolvimento de novos produtos ou a modelagem matemática de todas as etapas do beneficiamento dos minérios a fim de aperfeiçoar sua eficiência são outras áreas indicadas.
Pesquisa coordenada
Além do acordo de cooperação com a FAPESP, a Vale assinou parcerias em moldes semelhantes com as fundações estaduais de amparo à pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e do Pará (Fapespa), Estados em que a empresa tem atuação importante em suas atividades produtivas. A Fapemig investirá R$ 20 milhões e a Fapespa, R$ 8 milhões, para uma contrapartida da Vale que é de R$ 20 milhões em Minas Gerais e de R$ 32 milhões no Pará. Somando o total de investimentos com as três fundações, o investimento chega a R$ 120 milhões.
Segundo Mello, a assinatura dos convênios é uma das decorrências da criação do Instituto Tecnológico Vale, lançado em dezembro e concebido para coordenar as ações de ciência e tecnologia da empresa. “A criação do instituto é uma mudança de paradigma nas estratégias de pesquisa e desenvolvimento da Vale”, disse.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 23/12/2009)