Técnicos do Laboratório de Mamíferos Marinhos do Museu Oceanográfico da Furg recolheram, no início da tarde de ontem, da beira da praia do Cassino, na área da localidade de Querência, um boto encontrado morto. O animal foi vítima de redes de pesca, o que ficou evidenciado pelas marcas verificadas no focinho e por um corte próximo à cauda, que costuma ser feito para retirada da rede que fica presa nos animais. Um pedaço de rede de malha também foi achado junto ao boto.
De acordo com o oceanólogo Lauro Barcellos, diretor do Museu Oceanográfico da Furg, este é o 9º boto morto aprisionado em redes nos últimos dois meses e o 16º este ano da população de aproximadamente 90 botos que habita o estuário da Lagoa dos Patos e águas costeiras adjacentes. Os pesquisadores do Laboratório de Mamíferos Marinhos do Museu Oceanográfico e da Furg acompanham essa população desde 1974, por meio do projeto Botos da Lagoa dos Patos.
O biólogo Pedro Fruet, do laboratório, observa que essa mortandade preocupa, porque, se continuar alta, levará essa população de botos à extinção. Barcellos lembra que as redes de pesca também já causaram a morte de 44 surfistas no litoral norte do Rio Grande do Sul nos últimos 20 anos. O boto encontrado morto ontem é um adulto. Tem 3,24 metros de comprimento e pesa em torno de 400 quilos. Os indivíduos desta espécie medem no máximo 4 metros e pesam até 600 quilos.
O corpo do animal foi retirado da praia numa operação que envolveu Bombeiros, Prefeitura do Rio Grande e técnicos do Museu Oceanográfico e levado para a área do Centro de Convívio dos Meninos do Mar (CCMar). Os pesquisadores iriam abrir o animal para estudar sua anatomia. Com estes estudos, eles buscam conhecer melhor a população de botos da região. Esse grupo de botos se alimenta, reproduz e socializa no estuário da Lagoa dos Patos e águas costeiras adjacentes. "Eles dependem deste lugar para viver", ressalta Fruet. Alguns se deslocam até o Uruguai.
O projeto Botos da Lagoa dos Patos objetiva estudar detalhadamente os animais desta espécie que habitam o estuário da laguna e lutar por sua conservação.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 22/12/2009)