O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusou os Estados Unidos de forjarem documentos que supostamente indicariam que o governo de Teerã estaria trabalhando para conseguir um componente importante para a fabricação de uma bomba nuclear.
Em uma entrevista à rede de televisão norte-americana ABC, Ahmadinejad afirmou que documentos divulgados na semana passada pelo jornal britânico The Times, que descrevem um suposto plano do Irã para testar um dispositivo que funciona como um "gatilho nuclear", teriam sido fabricados pelo governo dos Estados Unidos.
O presidente iraniano também afirmou que as declarações dos governos ocidentais a respeito do programa nuclear de seu país se tornaram uma "piada repetitiva e sem graça". "Há uma série de documentos constantemente sendo forjados pelo governo americano. Eles fundamentalmente não são verdadeiros", disse Ahmadinejad.
Gatilho nuclear
Na semana passada, o jornal britânico The Times publicou uma reportagem onde afirmava ter obtido documentos de 2007 que descrevem um plano de quatro anos do Irã para testar um componente que funciona como um "gatilho nuclear", que usa o deutério de urânio.
Este componente poderia ser usado, de acordo com o jornal, como um iniciador de nêutrons: a parte de uma bomba nuclear que desencadeia uma explosão. Na ocasião da publicação, o governo iraniano, que insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, já havia afirmado que a reportagem teria objetivos políticos.
Desafiador
Na entrevista à rede ABC, que foi gravada na sexta-feira, o presidente Mahmoud Ahmadinejad também mostrou uma postura desafiadora em relação à possibilidade de serem aplicadas novas sanções contra seu país devido ao programa nuclear.
"Nós não desejamos confrontos, mas não vamos nos intimidar por provocações. Se vocês querem conversar conosco sob condições justas, nós receberemos bem as negociações. Se vocês disserem que irão impor sanções, então vão e façam", disse Ahmadinejad.
O Irã se recusa a suspender um processo de enriquecimento de urânio que é visto pela comunidade internacional como tendo o objetivo de fabricar armas nucleares. Por isso, o país já foi submetido a uma série de sanções pela Organização das Nações Unidas (ONU). O governo iraniano, que insiste que seu programa nuclear visa a produção de energia, poderá sofrer mais sanções, pois rejeitou uma proposta de enviar o urânio com baixo nível de enriquecimento para outros países para ser transformado em combustível.
Direitos humanos
Durante a entrevista, Ahmadinejad também rejeitou críticas a respeito da situação dos direitos humanos no Irã e as acusações de prisões em massa após as eleições presidenciais de junho. "Estas coisas tem relação com o Judiciário. Nós temos boas leis, há juízes, essas pessoas têm advogados. Estas não são questões políticas", disse.
A entrevista à rede americana foi gravada antes dos protestos ocorridos durante o funeral do clérigo dissidente aiatolá Hoseyn Ali Montazeri, nesta segunda-feira, quando teriam sido registrados confrontos entre policiais e oposicionistas.
(BBC Brasil / UOL, 22/12/2009)