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avicultura frigoríficos/agroindústrias pesquisas genéticas
2009-12-22

No fim da década de 1990, a indústria avícola descobriu um problema ósseo, a discondroplasia tibial, ou falta de calcificação da tíbia, que atingia mais da metade dos frangos criados. A enfermidade foi um efeito indesejado do processo de seleção genética, que dava preferência às aves com mais carne para servir como reprodutoras. Os animais ficaram mais corpulentos a cada geração, mas o desenvolvimento da tíbia não acompanhou o aumento de peso. Como resultado, esses ossos não calcificavam. Permaneciam moles, em estado cartilaginoso.

O problema causa sofrimento às aves que sentem dor ao andar e, por isso, acabam se alimentando menos e ficando mais tempo deitadas, prejudicando o crescimento e provocando dermatites, entre outros problemas.

No início do ano 2000, a zootecnista Ibiara Correia de Lima Almeida Paz começou a estudar o assunto em seu mestrado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Botucatu. O objetivo era desenvolver um método que permitisse o diagnóstico da doença sem que fosse preciso sacrificar as aves.

“Na época, só havia uma técnica de diagnóstico de animais vivos, mas era patenteada em nome de uma empresa multinacional e, portanto, não acessível”, explica Ibiara, que hoje é professora da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), no Mato Grosso do Sul.

A pesquisadora contou com apoio da FAPESP na forma de bolsa de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, este último intitulado “Densidade mineral óssea de aves de interesse zootécnico – Gallus gallus (poedeiras semi-pesadas e frangos de corte) e Struthio camelus (avestruzes) e concluído em 2009. Todos os trabalhos de pesquisa foram orientados pelo professor Ariel Antonio Mendes, do Departamento de Produção Animal da FMVZ.

Ibiara optou por adaptar uma metodologia de diagnóstico aplicada a cães e gatos que havia sido desenvolvida pelo professor Luiz Carlos Vulcano, da FMVZ. O sistema utilizava técnica de raios X, mas esbarrava em um problema de portabilidade. “No início, levávamos as aves para o hospital veterinário da faculdade, mas isso se mostrou inviável ao longo do tempo”, contou. A solução foi transportar equipamentos portáteis de raios X para o campo.

Resolvido o problema da coleta de dados diagnósticos, ainda era preciso desenvolver um método para analisá-los. O desafio estava em medir o teor de cálcio e de fósforo dos ossos radiografados. Esses dois minerais são os principais elementos formadores da hidroxiapatita, o composto responsável pela rigidez óssea e que tem densidade muito próxima à do alumínio.

A solução foi elaborar uma escala com teores diferentes de alumínio, que serviria de padrão de comparação para detectar a quantidade de hidroxiapatita nas tíbias das aves. “Comparamos as tonalidades cinzentas da escala de alumínio com a cor da radiografia e, com isso, conseguimos verificar o índice de calcificação do osso e se a ave sofria de discondroplasia tibial”, disse Ibiara.

Frangos no tapete eletrônico
Durante os estudos, o grupo da FMVZ soube que a professora Irenilza de Alencar Nääs, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, estava utilizando em seu trabalho um tapete eletrônico desenvolvido por um fabricante de calçados esportivos para analisar pisadas de atletas.

Com o apoio da professora da Unicamp, Ibiara levou frangos para caminhar sobre o tapete e constatou que as aves com problemas no andar começavam a caminhar normalmente após receberem analgésicos. “Naquele momento percebemos que as aves sofriam dores por causa da doença”, disse.

A pesquisa recebeu vários prêmios, como o de melhor trabalho na 19ª Conferência Europeia de Avicultura, em 2002, na Alemanha, e o de melhor trabalho na área de produção da Conferência da Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, em 2008. Ibiara continua nessa linha de pesquisa, agora identificando outros problemas ósseos, como a degeneração femural dos frangos e desvios na coluna vertebral que surgiram quando o melhoramento genético, a manipulação e a nutrição começaram a reduzir os índices de discondroplasia tibial.

(Por Fábio Reynol, Agência Fapesp, 18/12/2009)


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