A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ( COP 15 ), realizada em Copenhague, chegou a um "acordo de mínimos" neste sábado (19/12), ainda assim após superar a oposição de vários países e após um intenso debate que se prolongou durante toda a noite.
A Presidência da conferência limitou-se a anunciar que havia "tomado nota do acordo de Copenhague de 18 de dezembro de 2009", que incluirá uma lista dos países contrários ao texto.
Conheça algumas reações ao “acordo de Copenhague”, texto que não tem nem 3 páginas :
"Copenhague foi um fracasso abjeto. A justiça não foi feita. Ao adiar a ação, os países ricos condenaram milhões das pessoas mais pobres do mundo à fome, ao sofrimento e à perda da vida à medida que a mudança climática se acelera. A culpa desse resultado desastroso é honestamente das nações desenvolvidas."
Nnimmo Bassey, Amigos da Terra Internacional
"O encontro teve um resultado positivo, todos deveriam estar felizes. Após as negociações, ambos os lados conseguiram preservar seus interesses essenciais. Para nós, era nossa soberania e interesse nacional."
Xie Zhenhua, chefe da delegação chinesa
"A cidade de Copenhague é cenário de um crime esta noite, com os culpados correndo para o aeroporto. Não há metas para cortes de carbono e não há acordo sobre um tratado com valor legal. Parece que há poucos políticos neste mundo capazes de enxergar além do horizonte de seus próprios interesses, muito menos de se importar com as milhões de pessoas que estão intimidadas pela ameaça da mudança climática."
John Sauven, Greenpeace britânico
"Nós teremos que dar continuidade ao trabalho realizado aqui em Copenhague para garantir que a ação internacional para reduzir significativamente as emissões seja sustentada e suficiente ao longo do tempo. Nós já percorremos um longo caminho, mas ainda temos de ir muito mais longe."
Barack Obama, presidente americano
"O Acordo de Copenhague pode não ser tudo o que todos esperavam, mas é um começo importante. [...] Vamos tentar chegar a um acordo obrigatório com valor legal até a COP 16, no México."
Ban Ki-Moon, secretário-geral das Nações Unidas
"Parece que estamos recebendo 30 peças de prata para trair nosso povo e nosso futuro."
Ian Fry, negociador-chefe de Tuvalu
"Conseguimos um começo. O que devemos fazer agora rapidamente é garantir que o documento passe a ter valor legal."
Gordon Brown, primeiro-ministro britânico
"(O texto) pede que a África assine um pacto suicida, um pacto de incineração de forma a manter a dominação econômica de alguns poucos países. É uma solução baseada em valores, os mesmos valores em nossa opinião que levaram 6 milhões de pessoas na Europa para fornalhas." Lumumba Stanislaus Di’Aping, chefe do G-77 (países pobres)
"Não vou esconder minha decepção em relação à natureza não vinculante deste acordo. Neste respeito, o documento fica muito abaixo de nossas expectativas."
José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia
"Com qualquer coisa acima de 1,5°C, as Maldivas e várias outras ilhas desapareceriam. Por essa razão, tentamos seriamente durante os últimos dois dias colocar 1,5°C no documento. Sinto muito que isso tenha sido grosseiramente obstruído pelos grandes emissores."
Mohamed Nasheed, presidente das Ilhas Maldivas
"É muito decepcionante, eu diria, mas não é um fracasso... se concordarmos em nos encontrar novamente e lidar com os assuntos pendentes. Temos um grande trabalho pela frente para evitar a mudança climática através de metas efetivas de redução de emissões e isso não foi feito aqui."
Sérgio Serra, embaixador do Brasil para Mudança Climática
"O texto que temos não é perfeito... Se não tivéssemos acordo, isso significaria que dois países tão importantes como Índia e China estariam livres de qualquer tipo de contrato... Os Estados Unidos, que não assinaram Kyoto, estariam livres de qualquer tipo de contrato. Por isso, um contrato é absolutamente vital."
Nicolas Sarkozy, presidente da França
"Eu pergunto se, em plena vista do secretário-geral da ONU, vocês vão apoiar este golpe de Estado contra a autoridade das Nações Unidas."
Claudia Salerno Caldera, representante da Venezuela
"Levando-se em conta de onde começamos e as expectativas para essa conferência, qualquer resultado que não seja um acordo de valor legal não alcança o objetivo. Por outro lado... talvez nossas expectativas tenham sido muito altas e o fato de que agora há um acordo... talvez nos dê algo em que possamos nos apoiar."
John Ashe, chefe das negociações do Protocolo de Kyoto
Os 12 parágrafos que causaram as reações acima:
Era para os países assinarem cortes de gases-estufa segundo as recomendações científicas do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, explicadas em detalhes ao mundo em 2007. Mas o fruto de dois anos de preparativos e duas semanas de conferência foi um texto com duas páginas e meia (nem isso). Não tem as metas. Vem com algumas cifras, mas sem explicar como o dinheiro será captado e administrado.
O texto é uma declaração de intenções. Não tem efeito vinculante, mas mesmo que tivesse, não vincularia ninguém a nada muito decisivo. Os países admitem que de fato é bom evitar uma alta da temperatura em 2°C neste século, concordando com os cientistas (parágrafo 1).
Daqui a cinco anos volta-se ao debate para ver se não é ainda melhor deixar escrito que é sensato tentar impedir uma alta de 1,5°C (12º e último parágrafo). É um afago para Tuvalu e outras ilhas, que podem desaparecer sob as águas com uma alta da temperatura superior a um grau centígrado e meio.
O “detalhe” da redução das emissões a médio prazo (2020) fica para mês que vem, mais precisamente até o dia 31 de janeiro. Os países deverão providenciar "informações nacionais" (o “nacionais” é para ressaltar a soberania das partes e aplacar a ira chinesa) contando para a ONU como estão combatendo o aquecimento global - ou não. Isso está no parágrafo 4.
Objetivos de longo prazo (2050) não foram mencionados.
No papel não há metas, mas há menção a dinheiro (parágrafo 8). Não significa que ele vai de fato pingar, porque o texto, que não tem força legal, não explica quais mecanismos institucionais seriam responsáveis pela gestão dos recursos.
Está escrito que as nações ricas se comprometem a direcionar US$ 30 bilhões nos próximos três anos para ajudar nações pobres a lidar com as alterações climáticas.
Os EUA haviam anunciado que entrariam com US$ 3,6 bilhões; o Japão, com US$ 11 bilhões; a União Europeia, com US$ 10,6 bilhões. Os US$ 4,8 bilhões que faltam hão de ser financiados por alguém. Entre 2013 e 2020, o aporte seria elevado para US$ 100 bilhões por ano.
(G1 / AmbienteBrasil, 21/12/2009)