O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, qualificou de "bastante discretos" os resultados da cúpula do clima de Copenhague que terminou sem um acordo vinculativo neste sábado, após uma última sessão plenária que durou nada menos do que 31 horas. "Há resultados, mas são bastante discretos", disse o chefe do Kremlin na cidade de Alma-Ata, ao falar sobre a cúpula aos líderes da Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Turcomenistão.
Medvedev constatou que "apenas no final se conseguiu pactuar uma declaração que reflita as ideias dos mais diversos países sobre como melhorar a situação ecológica no mundo e evitar os efeitos perniciosos para o clima", informou a agência russa de notícias Itar-Tass.
O russo, que discursou ontem (18) na cúpula de Copenhague, confirmou, em seu discurso, a vontade da Rússia de reduzir em 25% suas emissões de CO2 até 2020. A cúpula foi fechada com um acordo generalista, de cumprimento não obrigatório, que teve a oposição aberta de, pelo menos, Tuvalu, Venezuela, Bolívia, Cuba e Sudão.
Em entrevista coletiva após o acordo, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, afirmou que trabalhará para transformar esse texto "em um tratado legalmente vinculativo em 2010", mas seu pretenso otimismo não escondeu a decepção em relação aos resultados finais.
O acordo ficou muito longe das expectativas geradas em torno daquela que deveria ser a mais importante conferência do século principalmente por não determinar metas de corte para emissão de gases-estufa. Por outro lado, o texto limita o aquecimento global a 2ºC e estabelece fundos a serem gastos por países pobres.
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Ontem, durante todo o dia, os chefes de Estado realizaram reuniões para tentar chegar a um acordo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarnou o papel de mediador entre os ricos e os emergentes. Ao final do dia, após uma série de reuniões, Lula mediou o encontro entre os gigantes poluidores, EUA e China, além de Índia e África do Sul. Os cinco países elaboraram um texto final e, em seguida, seus líderes deixaram Copenhague.
O acordo pré-aprovado --que Obama definiu como "insuficiente"-- trazia como metas limitar o aquecimento global a 2ºC e criar um fundo que destinaria US$ 100 bilhões todos os anos para o combate à mudança climática --sem nenhuma palavra sobre metas para corte em emissões de CO2, a grande expectativa da cúpula, que era pra ser a maior do século.
Na madrugada, o diálogo só piorou. O texto pré-aprovado foi barrado por Tuvalu, Venezuela, Bolívia, Cuba e Sudão. Houve intensos debates. Delegações disseram que o impasse estava próximo do da rodada Doha. Um delegado sudanês comparou a política dos países ricos ao Holocausto, dizendo que o aquecimento global está matando gente na África.
Já neste sábado, o presidente da Conferência, o primeiro-ministro dinamarquês Lars Lokke Rasmussen, fez uma pausa de algumas horas na sessão, para consultar com os advogados uma possível saída. O meio encontrado foi a "tomada de nota", instrumento pelo qual o texto pode ser aplicado, porém não é de cumprimento obrigatório.
Neste sábado, em entrevista à Globonews, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que "incompetência e egoísmo" marcaram a cúpula do clima de Copenhague. Minc afirmou que, com o fracasso da cúpula, o mundo "perdeu uma grande oportunidade", mas ressaltou terem ocorrido "vários avanços" antes da reunião que, se efetivados, ainda podem ter efeito positivo sobre as mudanças climáticas.
"O que foi posto na mesa não vai ser tirado. [...] Nós, no Brasil, a partir de segunda [dia 21], vamos nos reunir com empresários, fazer cronogramas", afirmou o ministro no sentido de cumprir a meta de cortar as emissões de CO2 no Brasil de 36% a 39% do volume para 2020.
(Folha Online, 19/12/2009)