Lula hoje fez o que deveria ter feito nesta quinta (17/12): em discurso no último dia de COP15, ele apontou o dedo sobre aqueles que boicotam o sucesso da Conferência do Clima. Mostrou responsabilidade, visão e comprometimento e jogou luz sobre a incoerência americana fomentada por Barack Obama que, ao mesmo tempo que diz fazer muito, não avança tanto quanto é esperado do líder do país mais poderoso do mundo.
Lula falou de improviso para os 120 chefes de Estado ali presentes, desanimado e frustrado pelo pouco avanço obtido até agora. “Com meias palavras e barganhas, a gente não encontraria solução nessa conferência de Copenhague”, afirmou. E deixou as meias palavras de lado, se contrapôs ao discurso burocrático e desprovido de emoção feito ontem e deu um passo inesperado para um país em desenvolvimento.
Segundo ele, o Brasil não apenas pode abrir mão de ajuda financeira externa como pode colocar dinheiro em um fundo de ajuda aos países mais pobres, para que se preparem para o aquecimento global. Mas a maior responsabilidade pelo aquecimento global – e quem deve pagar a maior parte da conta – ainda é dos países ricos. “O dinheiro que será colocado na mesa será o pagamento pela emissão de gases do efeito estufa feita durante dois séculos por quem teve o privilégio de se industrializar primeiro. Não é barganha de quem tem dinheiro e de quem não tem.”
Lula fez o que era esperado dele – muito em um deserto de decisões, em uma plenária cheia de palavras bonitas e intenções escusas. Obama, que se seguiu a Lula, foi por sua vez um balde de água fria. Fez novamente um belo discurso – porém vazio. Ele exigiu avanços consistentes dos outros países – especialmente da China –, mas ele próprio se recusou a avançar. Pregou pelo fim da separação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento – mas fechou os olhos para o quão os mais pobres, inclusive os africanos, terra de seu pai e onde mora sua avó, sofrem e sofrerão com o aquecimento global.
Obama cobrou que para lidar com as mudanças climáticas precisamos fazer uma política do século 21 e não do século 20 – mas ficou preso ao lobby do setor industrial americano, que segura no Congresso avanços de uma política energética limpa para os Estados Unidos. Os países em desenvolvimento apresentaram metas e até disponibilizaram dinheiro para os países mais vulneráveis. Mas Obama não apresentou nada novo.
Enquanto o mundo esperava por um espírito de “sim, nós podemos”, Obama defendeu um acordo fraco e deixou no ar o espírito do “não podemos”. O presidente americano trouxe dos Estados Unidos uma grande âncora para segurar avanços consistentes da COP15, enquanto o planeta precisa agora de líderes que garantam uma rota segura em direção a um futuro mais limpo.
(Greenpeace Brasil, 18/12/2009)