Presidente diz que não quer ser lembrado como um dirigente incompetente que não agiu quando era possível
Desde que chegou a Copenhague, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem se reunindo com chefes de Estado para fazer avançar as negociações da Conferência do Clima, que termina nesta sexta (18/12). Ontem à tarde, em entrevista com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que não pretende entrar para a história como um dos que afundaram o acordo climático. "Corremos o risco de sermos fotografados como os dirigentes incompetentes que não conseguiram cuidar do planeta enquanto ainda era possível", afirmou. Depois de mais de 24 horas em reuniões, Lula confessou que o tom dos que o procuravam era de total pessimismo. "Mas acredito que possamos transformar esse pessimismo em otimismo."
Para a noite de ontem, Lula e Sarkozy convocaram uma reunião com 25 dos principais líderes mundiais em Copenhague. O encontro começou após um jantar oferecido pela rainha da Dinamarca, Margarida II, e foi interrompido por uma hora em torno das 2h30, no horário local, para um texto ser elaborado - os chefes de Estado foram dormir e outros negociadores permaneceriam trabalhando. Lula retornou ao hotel aparentando bom humor e, indagado sobre a possibilidade de um acordo, esclareceu: "Estou rindo para não chorar. Vamos esperar até amanhã (hoje)."
O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) afirmou que ainda não havia nenhum resultado claro. O acordo discutido entre os líderes, diz ele, tinha como pontos limitar o aumento da temperatura em 2°C, cortar as emissões dos países desenvolvidos em 80% até 2050 e um corte médio de 50% até 2050. "Ainda não estou sem esperança de que saia um acordo", disse o ministro. Um negociador chefe argelino disse que o acordo caminha para ser um tratado legalmente vinculante (ou seja, com força de lei internacional).
Na noite anterior, Lula recebeu Gordon Brown e o primeiros-ministro dinamarquês, Lars Rasmussen, que foram pedir ajuda para reverter o fracasso iminente, mas também para pressionar o G77 a abrir mão de algumas posições. Ouviram de Lula que isso não seria possível se os países ricos não abrissem mão das suas posições.
As reuniões resultaram na retirada do documento apresentado durante a tarde pela Dinamarca e a decisão de trabalhar em cima dos dois textos formatados nas reuniões técnicas. "Muita coisa que queremos está no documento. Muitas coisas estão em colchetes (que sinalizam pontos sem acordo), há dúvidas, mas líderes existem para isso", afirmou Lula. "Não vamos construir o acordo mais perfeito, mas o acordo possível de construir."
A intenção é ter algo para ser lido e debatido na plenária geral, hoje. E, principalmente, algo para assinar à tarde, antes que os 120 líderes mundiais tenham de voltar para casa com um fracasso absoluto.
No seu discurso na Conferência, Lula cobrou um acordo e a manutenção do Protocolo de Kyoto. "Aqui em Copenhague não há lugar para conformismo. Os países desenvolvidos devem assumir metas ambiciosas de redução de emissões à altura de suas responsabilidades históricas e do desafio que enfrentamos", afirmou. "Esta conferência não é um jogo onde se possa esconder cartas na manga. Se ficarmos à espera do lance de nossos parceiros, podemos descobrir que é tarde demais. Todos seremos perdedores."
(Por Lisandra Paraguassú, com colaboração de Afra Balazina, O Estado de S. Paulo, 18/12/2009)