A Conferência de Copenhague não movimenta só a Dinamarca. Em todo o mundo a sociedade se manifesta a favor de um novo tratado climático que substitua o Protocolo de Kyoto e corresponda às necessidades de adaptação às mudanças climáticas. Aqui no Brasil, não é diferente.
Ciclistas de Florianópolis se organizaram no último dia nove de dezembro em uma pedalada pelas principais ruas e avenidas da cidade. A idéia era marcar posição contrária à poluição emitida pelos veículos e a favor de decisões que beneficiem o planeta. O "Pedal Unificado Pelo Clima" partiu da Praça República da Grécia, na Avenida Beira-Mar Norte, às 8 da noite com 170 participantes, segundo os organizadores.
O biólogo Daniel de Araujo Costa, do Movimento Ciclovia na Lagoa Já, registrou em seu blog a participação do grupo na manifestação "para cobrar dos Políticos presentes na COP 15 que façam sua parte, pensando no Coletivo, pensando em nosso Planeta".
O percurso de 22 quilômetros foi agregando mais pessoas nas ruas principais do centro da ilha e do continente. A comparação entre as bicicletas, circulando livremente, e os carros, que avançavam com lentidão no horário de maior movimento na cidade, foi inevitável. Algumas magrelas levavam a frase "Um carro a menos" para sinalizar sua importância em meio ao trânsito cada vez mais saturado de Floripa.
Vida mais saudável
A bicicleta é apontada como uma solução para o transporte urbano. Além de liberar as ruas, não emite poluição e contribui para que as pessoas tenham uma vida mais saudável. Para se ter uma idéia, os veículos motorizados emitem mais gases estufa que o setor industrial. Ou seja, andar de bicicleta promove não só uma resposta às mudanças climáticas, mas uma transformação na forma de ver a cidade. "Antes eu não reparava muito no trânsito e em quantos automóveis havia apenas uma pessoa dentro", diz Luiz Carlos Pereira, do grupo de cicloturismo Caminhos do Sertão.
Esse comportamento faz com que o cidadão repense sua postura diante das mudanças climáticas e se torne mais consciente. Em Copenhague, essa ideia podem ser vista por toda a cidade, principalmente com a Conferência das Partes (COP 15) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Quando a reunião começou, no dia 7 de dezembro, uma árvore de Natal com luzes que acendem com a energia produzida por 15 bicicletas foi instalada especialmente para a COP 15.
Bicicletas em trânsito
A iniciativa, em Florianópolis, não é apenas um movimento temporário. Os grupos de ciclistas e pessoas em busca de alternativas de transporte aliadas à qualidade de vida aumentam em número e participação nas questões ambientais e políticas. Só de olhar a lista de grupos participantes do Pedal Pelo Clima já se pode ter uma ideia. São eles a Bicicletada Floripa, o Pedal das Quartas Della Bikes, Duas Rodas, Floripa Bikers, CicloVil, Movimento Ciclovia na Lagoa Já e ViaCiclo.
Dentre eles a Bicicletada se destaca por ser um movimento mundial espontâneo. Começou em 1992, em São Francisco, Estados Unidos, com o nome de "Critical Mass" (em inglês, Massa Crítica), e tomou conta de várias cidades do mundo - estima-se que sejam mais de 300. Em comum, os participantes têm a necessidade de mudar de alguma forma, nem que seja pedalando, e para isso se reúnem na última sexta-feira de cada mês e percorrem as ruas de sua cidade em seus veículos. Sem motor, sem poluição.
Qualquer um participa, não há um líder formal e o trajeto é decidido enquanto se está pedalando. A Bicicletada de Florianópolis parte da Concha Acústica da UFSC, às 18h30, com chuva ou sol.
E esse não é o único movimento que pedala na cidade. O Movimento Ciclovia na Lagoa Já luta há 12 anos por uma ciclovia na Lagoa da Conceição. O lugar é um dos cartões postais da ilha, e os moradores se preocupam com a quantidade de carros que torna o trânsito perigoso em alguns trechos. Quem quiser aderir ao movimento pode comparecer nas pedaladas todo segundo sábado do mês e se informar no blog Movimento Ciclovia na Lagoa Já.
No total, Floripa tem 24 quilômetros de ciclovia e mais 10 quilômetros em construção. E se for pela pressão crescente da população, a quilometragem tende a aumentar. A falta de ciclovias desestimula o hábito de pedalar pela insegurança. Há motoristas que não respeitam as biciletas.
Se há dúvidas sobre como se portar no trânsito, o blog Bicicleta na Rua disponibiliza o Manual do Ciclista um guia sobre vários assuntos importantes, como segurança viária, legislação e manutenção da magrela, por exemplo.
Quem acha que de bike não se vai muito longe, na última terça (16/12) saiu um grupo de cinco estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina rumo a Santiado do Chile. Eles esperam cumprir o percurso em 40 dias e no caminho conhecer de perto a paisagem, as pessoas e a cultura, além de provar que a bicicleta é sim um meio de se viajar com consciência e sustentabilidade.
(Por Juliana Frandalozo, AmbienteJÁ, 18/12/2009)