Maior parte dos recursos será usada na construção de usinas hidrelétricas; ministra Dilma rejeitou financiar fundo
Financiar as metas brasileiras de redução das emissões de CO2 vai custar ao País US$ 166 bilhões (R$ 282,2 bilhões) nos próximos 10 anos, disse ontem a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. A maior parte dos recursos será usada para construir usinas hidrelétricas, para garantir a manutenção de fontes renováveis de eletricidade. Os números são uma conta preliminar. Não entraram na soma, por exemplo, os custos para evitar o desmatamento no Cerrado, que faz parte do cálculo para que o País reduza em 39% a projeção de emissões para 2020.
Dos recursos, entre US$ 110 bilhões e US$ 113 bilhões devem ir para a construção de hidrelétricas - a maior parte dessas obras está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outros R$ 32 bilhões vão para a agricultura, com ações de plantio direto e recuperação de áreas degradadas. Conter o desmatamento na Amazônia precisará de US$ 21 bilhões. Hoje, tudo está na conta do governo federal. "Por isso precisamos de financiamento externo. Não é nenhum pecado", afirmou a ministra Dilma.
Nesta quarta (16/12), Dilma rejeitou nova proposta para formatação do fundo global de financiamento para mudanças climáticas que não foi apresentada oficialmente ao Brasil, mas é tratada nos bastidores da COP-15. Países desenvolvidos propõem que 25% do dinheiro do fundo venha de seus recursos, 55% de um mercado de carbono e o resto, "a ver" - traduzindo, dos emergentes. "Se for 55% de recursos de mercado, não se faz adaptação. Adaptação é basicamente para países muito pobres. É para zonas desérticas na África, para as pequenas ilhas que podem desaparecer, nada que interesse ao mercado", disse.
O fundo precisa de recursos públicos, na visão dela. O problema, admite, é que existem poucas propostas e a maioria se baseia no mercado de carbono, algo que não atende a maior parte dos países mais pobres. "Recursos precisam ser previsíveis e 55% de financiamento de mercado não é previsível. Não há como fazer investimentos de 10, 15 anos sem previsibilidade."
Uma das apostas dos negociadores brasileiros é arrancar uma promessa de mais recursos dos EUA. Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pode ser mais fácil os americanos se comprometerem com mais dinheiro do que com uma meta maior. "Nossa esperança era que a boa vontade da UE para trazer os americanos a bordo se traduzisse em uma meta maior dos EUA." Agora, Minc teme que ocorra o contrário.
Os ministros repetiram que o Brasil não pretende colocar recursos no fundo. Respondendo à ideia da senadora Marina Silva e do governador José Serra de que o País deveria colaborar com pelo menos US$ 1 bilhão, Dilma apresentou as contas de quanto o País investiu na América Latina e na África. Segundo ela, o País financia hidrelétricas com juros especiais, transfere tecnologia de etanol e repassou parte dos recursos recebidos da Noruega pelo Fundo Amazônia para os vizinhos. Na soma, seriam US$ 5 bilhões.
Troca de gentilezas
Após dias de estranhamentos públicos, Dilma e Minc pareciam ter acertado os ponteiros, ao menos para o público externo. Durante entrevista, entre gentilezas, os dois praticamente fizeram um jogral para apresentar o andamento das negociações no primeiro dia do presidente Lula em Copenhague. Dilma fez um esforço para deixar o colega falar e Minc tentou controlar sua tendência de interromper a toda hora.
(Por Lisandra Paraguassú, O Estado de S. Paulo, 17/12/2009)