O Ministério de Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mantêm a hipótese de raios como a principal causa do apagão que atingiu 18 estados brasileiros e parte do Paraguai, no início de novembro. Em audiência conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Controle; de Minas e Energia; e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, nesta quarta-feira, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, explicou que o sistema elétrico operava com padrões de segurança superiores ao normal momentos antes do problema.
Segundo ele, às 10 horas e 13 minutos da noite de 10 de novembro, ocorreu um "grave e atípico" curto-circuito trifásico simultâneo entre as subestações de Ivaiporã, no Paraná, e de Itaberá, em São Paulo. Posteriormente, houve oscilação de frequência, colapso de tensão e desligamento em cascata, sobretudo na região Sudeste.
Contesta o Inpe
Segundo Chipp, a investigação realizada até agora mantém o diagnóstico de causas meteorológicas, divulgado no mesmo dia do apagão, apesar de afirmações contrárias sustentadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) "Além das condições de fortes chuvas, ventos e descargas - descargas mais à tarde, não muito à noite - havia uma indicação de uma chuva concentrada com 24 milímetros de intensidade num curto período de tempo”, sustenta o diretor do ONS.
“É um equívoco [pensar] que só a descarga forte, que a gente vê e faz barulho, é que causa o rompimento do isolamento”, acrescenta Chipp. “Não, as fracas também. E mais, as descargas fracas, abaixo de 25 kiloamperes, não são registradas com precisão pelos institutos [de meteorologia]".
Isoladores
O ONS também investiga a possibilidade de essas condições meteorológicas adversas terem provocado trincas nos chamados isoladores de pedestal, o que teria reduzido a efetividade desses equipamentos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, explicou que, por isso, estão sendo adotadas medidas preventivas em relação aos isoladores.
"Isso é algo mais que se vai fazer para proteger o equipamento de chuvas mais intensas e a possibilidade também de uma graxa para facilitar o escoamento da água sobre ele, o que não quer dizer que o equipamento não esteja em boas condições. É um reforço."
Sem racionamento
Lobão descartou qualquer possibilidade de racionamento de energia e garantiu que o nível dos reservatórios das hidrelétricas é o melhor dos últimos dez anos. De acordo com o ministro, o Brasil dispõe hoje de 106 mil Kilowatts de energia instalados e o “mais extenso e robusto” sistema de linhas de transmissão de energia elétrica.
Para o ministro de Minas e Energia, o apagão não passou de um "acidente" que provocou interrupção temporária de energia. Ele ressaltou ainda o fato de o fornecimento ter sido restabelecido em um tempo médio de 222 minutos.
Deputado desconfia
Já o deputado Vanderlei Macris, do PSDB paulista e co-autor do requerimento de realização da audiência pública, não saiu satisfeito com as explicações e desconfia que o apagão foi causado por falta de manutenção e investimento. "Não é convincente. É impressionante como esse governo deixou a desejar nesses mais de 30 dias desse blecaute. São explicações muito simplistas”, sustenta o parlamentar.
“Na minha opinião, foi problema de manutenção. Fala-se que precisa se preocupar com questões de graxa no sistema. A sociedade brasileira está insegura em relação às explicações dadas".
Transparência
Além do relatório do ONS, o Ministério de Minas e Energia aguarda pareceres técnicos sobre o blecaute de novembro, preparados pela Agência Nacional de Energia Elétrica e por uma comissão especial criada no âmbito do próprio ministério. O ministro Lobão garantiu que o governo trata o caso com transparência.
(Por José Carlos Oliveira, com edição de Newton Araújo, Agência Câmara, 16/12/2009)