Para ministro, desmatamento na Amazônia pode cair 90% e não 80%
O ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, disse nesta terça (15/12), em Copenhague, que o País pode aumentar as metas propostas para o combate às mudanças climáticas. Em vez de cortar o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020, Minc disse que taxa pode chegar a 90%. Ele ainda brincou dizendo que só não aumentaria mais o número para não acabar com o trabalho do Greenpeace, que defende o desmatamento zero. De acordo com o ministro, o compromisso assumido no Cerrado pode subir de 40% para 60%.
Com números mais ambiciosos, Minc espera que mais países se interessem em fazer doações para o Fundo Amazônia, que até agora tem recursos da Noruega e pode receber dinheiro da Alemanha. O País tem um estande na COP-15 para dar publicidade ao fundo. Minc avalia ainda que o País precisará de um total de R$ 10 bilhões por ano para as ações na área de clima. "O governo não tem um cálculo, mas o Ministério do Meio Ambiente tem uma ordem de grandeza do que precisaremos por ano, contando recursos públicos e privados."
Minc disse ainda que o Brasil está disposto a abrir mão dos recursos do Fundo de Adaptação (para ajudar os países na adaptação às mudanças climáticas), pois considera que os mais pobres e vulneráveis devem ter prioridade. Ele afirmou, porém, que o Brasil deseja receber recursos para mitigação (corte de emissões de CO2).
Horas depois, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, afirmou: "Pedi para o Minc esclarecer isso porque, às vezes, as pessoas confundem. O que queremos são financiamentos para mitigação." Jornalistas estrangeiros presentes à entrevista de Minc se divertiam com suas respostas bem humoradas. Ele chamou as integrantes da mesa de "mulheres guerrilheiras maravilhosas". No telão, Minc aparecia em fiscalizações na Amazônia.
Mecanismo
Em Copenhague, uma das maiores preocupações na área de florestas é o documento sobre o mecanismo de redução das emissões por desmatamento e degradação florestal (Redd). O texto agora está nas mãos dos ministros para ser negociado. O instrumento premiará quem conseguir reduzir o desmatamento e conservar a floresta.
Uma das questões pendentes é se a implantação deverá ser nacional ou se poderá ser subnacional - em nível estadual, por exemplo. O Ministério do Meio Ambiente considera que a implantação nacional é ideal, pois pode haver complicações e "vazamentos" (se um Estado for rigoroso no controle do programa e outro, mais frouxo, o resultado positivo será anulado pelo negativo). Mas os governadores da região amazônica têm intenção de gerir os recursos do mecanismo e defendem que ele seja subnacional.
O financiamento é outro ponto indefinido. Há países, entre eles os EUA, bastante interessados em Redd que funcione como mercado de carbono. Dessa forma, os países que precisarem reduzir as emissões para alcançar sua meta poderiam financiar as ações contra o desmatamento, obtendo o equivalente em crédito de carbono.
(Por Afra Balazina e Andrei Netto, O Estado de S. Paulo, 16/12/2009)