No sétimo dia de paralisação dos terminais da Petrobras em São Mateus, norte do Espírito Santo, por 600 camponeses reunidos no Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a empresa começa a apresentar sinais de preocupação em relação aos prejuízos, e a considerar a seriedade do impasse criado na região. Informações dão conta de que a gerência da Petrobras no Estado está no Rio de Janeiro, para reunião na sede da estatal, no sentido de viabilizar providências.
“Parece que estamos perto de um desfecho. Se for positivo à pauta do movimento, vamos desocupar a área. Caso contrário, iremos refazer nosso plano de ação, pois não abrimos mão dos três pontos principais: o asfaltamento da rodovia que liga São Mates a Barra Nova, melhoria na qualidade da água fornecida no município, e minimização dos impactos ambientais”, destacou Valmir Noventa, da coordenação estadual do MPA.
Com a interdição do Terminal Norte Capixaba (TNC) e das unidades “SM-8” e “FAL”, estão bloqueadas as entradas de veículos da empresa e de suas terceirizadas, assim como de turismo. Nos terminais, não chega petróleo, e a produção também não é enviada às refinarias. “O acesso só é permitido aos agricultores da região e para solucionar problemas urgentes da comunidade”, enfatizou Valmir. A própria Petrobras calcula que entre 800 e mil funcionários estejam parados, desde o início do movimento, na madrugada da última quarta-feira (09/12).
De acordo com as informações que chegam aos camponeses, a reunião dessa segunda-feira (14), com a presença do governador do Estado, Paulo Hartung (PMDB), políticos e empresários, não tratou especificamente da manifestação, mas o assunto foi um dos temas em discussão, quando a empresa teria demonstrado bastante preocupação com os rumos do protesto.
Apesar de se manterem nos pontos estratégicos dependendo da ajuda de moradores da região, para descanso e alimentação, os camponeses garantem que não vão abrir mão de suas reivindicações. Até mesmo porque os impactos são muito mais extensos, como afirmam os manifestantes. Até agora, a Petrobras não apresentou nenhum compromisso sobre as principais questões apresentadas pelo MPA, e mantém a mesma postura, de não dialogar com os camponeses. Todos os encaminhamentos são passados ao MPA por terceiros, nada oficial.
A mobilização cobra providências não só da empresa, mas também do governo do Estado e da prefeitura de São Mateus, para resolver problemas antigos sofridos pela comunidade, e que já foram pauta de outros dois protestos na região. Porém, sem resultado algum. As propostas ficam apenas na promessa, e um tenta jogar a responsabilidade sobre o outro.
A rodovia que liga São Mateus a Barra Nova está completamente danificada pelo transporte de carretas que atendem à empresa, impossibilitando o escoamento das produções agrícola, pecuária e pesqueira. Já a água fornecida no município se tornou de péssima qualidade, com as atividades de extração, escavação e perfuração do óleo pela Petrobras. Os moradores de São Mateus são obrigados ainda a conviver com a constante falta de água.
A região também tem sido totalmente destruída pelas atividades da Petrobras. Os camponeses relatam que as tubulações para construção do gasoduto da empresa causaram a mortandade de peixes e tartarugas marinhas, e o sumiço do caranguejo, principal fonte de renda dos moradores.
Além disso, os recursos hídricos estão se esgotando, e o produto químico usado pela empresa para fechar os poços de petróleo, conhecido como “Lama”, tem provocado a contaminação da água e, consequentemente, das espécies encontradas na região, situação que se agrava com os constantes derramamentos de óleo registrados no norte. Em pouco mais de dois meses, três vazamentos foram registrados, atribuídos à subsidiária da Petrobras, a Transpetro.
(Por Manaira Medeiros, Século Diário, 15/12/2009)