As negociações em Copenhague aconteceram, nesta terça-feira (15/12), sem problemas, mas também sem quaisquer avanços, e permanece a expectativa de que tudo comece a ser decidido nos próximos dias, com a presença dos chefes de Estado dos diversos países.
Segundo Francisco Ferreira, da associação ambiental Quercus, está para sair um texto remodelado do acordo de cooperação de longo prazo, mas as negociações permanecem complicadas, sobretudo no que diz respeito a um consenso sobre o futuro do Protocolo de Quioto."Hoje esteve tudo mais calmo, não houve ninguém a abandonar as conversações, mas também porque não houve avanço nenhum.
No Protocolo de Quioto houve até, em alguns casos, uma complexidade de dossiês", afirmou o ambientalista.O Protocolo de Quioto tem sido um ponto de discórdia entre as partes, com os países em desenvolvimento a defender a sua continuidade e os desenvolvidos a advogar a sua substituição por um novo acordo.
O acordo, assinado em 1997 e em vigor desde 2005 sem a participação dos Estados Unidos, obriga os países industrializados a reduzirem a emissão de gases poluentes."Há quem ache que o Protocolo de Quioto deve continuar a funcionar e que, ao mesmo tempo, a convenção das Nações Unidas deve ter uma reflexão com metas, que funcione paralelamente ao Protocolo de Quioto", explicou Francisco Ferreira.
Os Estados Unidos não estão interessados em integrar o Protocolo de Quioto, e, por isso, a alternativa seria partir para um novo pacto, que, no entanto, tivesse um conteúdo suficientemente ambicioso, que pudesse ser concretizado nos próximos seis a doze meses, e politicamente assumido, acrescentou.
"Os Estados Unidos estariam mais a favor desta solução, mas outros não", disse, para depois acrescentar que, para a União Europeia, o importante é a substância, sendo irrelevante a questão de se Quioto continuará ou não.
Risco de acordo "fraco"
O problema, segundo a Quercus, é que não sendo nenhuma destas a solução encontrada há o risco de não alcançar qualquer acordo, mas apenas "uma declaração mínima e uma discordância entre os diferentes grupos políticos sobre caminhos a seguir".
O outro cenário possível resultante das negociações é o de um "acordo fraco", pior do que o que existe agora: um trabalho através da convenção, com metas não vinculativas, pouco exigentes, com várias escapatórias para os países conseguirem cumprir essas metas, com uma série de falhas básicas, um texto genérico demais com poucos ou nenhuns números.
"Este seria o típico acordo para ficar bem na fotografia, apenas para mostrar algo de positivo sem ser, sem responder às necessidades traçadas pela ciência e, em particular, pelo quarto relatório do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas]".
Francisco Ferreira acredita que, nos próximos três dias, vão começar a ser tomadas decisões e haverá um avanço decisivo com a chegada dos chefes de Estado. "Das outras vezes houve sempre duas reuniões anuais. Este ano já estamos na sexta, a contar com esta.
É pena estarmos tão longe ainda de um consenso e com caminhos ainda discrepantes em relação ao que é possível", acrescentou.Neste momento há divergências entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, entre China e Estados Unidos e entre EUA e União Europeia.
(Lusa / UOL, 15/12/2009)