Nesta terça (15/12) começam as restrições de acesso mais rigorosas ao Bella Center, local onde acontece a Conferência de Clima da ONU (CoP-15). Cerca de 33 mil pessoas se inscreveram na reunião, mas o centro de conferência só tem capacidade para abrigar 15 mil pessoas, limite que provavelmente será atingido essa semana. Levando isso em consideração e o nível de segurança cada vez mais rigoroso, por causa da presença de ministros e chefes de Estado, os organizadores e o secretariado da Convenção de Clima (UNFCCC) tiveram que pensar em alguma maneira de controlar quem vai entrar no Bella Center nos próximos dias.
Deste modo, hoje e amanhã (quarta-feira), cerca de 7 mil observadores poderão entrar com crachás secundários, que foram distribuídos de acordo com a proporção de inscritos de cada organização. Feliz ou infelizmente, tenho meu acesso garantido até quarta. Digo “felizmente” porque acho que é importante relatar o que está acontecendo aqui dentro, mas “infelizmente” porque o clima é tenso e estou seriamente preocupada.
Na quinta-feira, mil observadores terão acesso ao Bella Center e na sexta-feira SOMENTE 90 pessoas da sociedade civil poderão entrar (serão dados 10 cartões de acesso para cada uma das 9 constituencies). Confesso que estou muito chateada com o fechamento gradual dessa reunião aos observadores. Faz dois anos que participo desse processo (desde a CoP-13, Bali, Indonésia, onde essa rodada de negociações começou) e nunca vi nada parecido.
Desde o início da CoP-15, a segurança tem limitado o nosso acesso às reuniões que, de acordo com a programação, permitem nossa participação. Filas são organizadas para ter direito a entrar no que eu apelidei de “chiqueirinho” das organizações não-governamentais. Algumas filas costumam ser longas e é um verdadeiro exercício de paciência ficar uma hora em pé esperando para poder entrar na sala, sendo que as pessoas que estão lá dentro falam que há lugares disponíveis.
Essa limitação de acesso tão radical pegou todos de surpresa e as ONGs já estão se mobilizando para tentar encontrar uma solução, mas parece que não há espaço para diálogo aqui. Toda a transparência e confiança no processo estão ameaçadas. Como podem impedir que pessoas que acompanham as negociações não participem de seus momentos mais decisivos?
Como pode um processo que envolveu milhares de pessoas integralmente, nos últimos dois anos, ser resolvido em UM dia sem a presença das mesmas? A impressão que eu tenho é que a ONU está preparando o terreno para o fracasso e blindando os chefes de Estado para não terem que lidar com as reações da sociedade civil. Está armado o cenário perfeito para greenwashing, ou seja, eles vão acabar assinando qualquer acordo e celebrando como se fosse o melhor resultado possível do encontro.
Isso porque não estamos considerando a questão logística: o que o governo dinamarquês/prefeitura de Copenhague/ONU vão fazer com todo esse povo, que veio para frequentar o Bella Center? Onde vão colocar todo mundo? Toda a estrutura montada no centro de conferência vai ficar às moscas, enquanto as pessoas tentam improvisar lugares para trabalhar e se informar sobre o que está acontecendo lá dentro? As organizações que tinham eventos paralelos programados para os próximos dias devem estar revoltadas, todos eles foram cancelados.
Resumindo, ser observador nas reuniões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima já foi mais fácil. O tamanho e os rumos da CoP-15 já fugiram faz tempo do controle da ONU e do governo da Dinamarca. Claramente, não estavam preparados para receber 33 mil solicitações de credenciamento. Agora, correm contra o tempo para tentar organizar os últimos dias da maior reunião da história das Nações Unidas, com a presença de 110 chefes de Estado e governo. Tudo em nome da segurança ou de um bom acordo?
(Por Juliana Russar, Adoptanegotiator.org, 15/12/2009)