Preço médio oferecido pelos participantes, R$ 148,39, foi menor do que os mais de R$ 160 esperados pelo governo. Montante comercializado representa o triplo da capacidade instalada em operação hoje no país; são 71 projetos em 5 Estados
O primeiro leilão exclusivo para energia eólica, organizado nesta segunda (14/12) pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para aumentar a segurança do sistema elétrico nacional e reduzir custos, contratou um volume de energia próximo ao esperado pelo mercado, a um preço médio menor do que o esperado pelo governo -que, como comprador, considerou o pregão um "sucesso".
Foi comercializado o equivalente a 1.805 MW instalados, em 71 projetos em Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Sul. É o triplo da capacidade instalada em operação hoje (602 MW). O leilão, que se estendeu por quase oito horas, foi bastante competitivo: registrou preço médio de R$ 148,39 por MWh, deságio de 21,5% sobre o teto inicial (R$ 189). O montante negociado será em torno de R$ 19,5 bilhões, por toda a vigência dos contratos -20 anos, a partir de julho de 2012.
"Hoje, podemos dizer que a fonte eólica efetivamente está tendo condições de entrar no mercado brasileiro, a partir do momento em que consegue apresentar preços que competem com a biomassa e outras fontes. Esse leilão é um sucesso absoluto, pela quantidade e pelos preços que tivemos", afirmou o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann.
O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, disse que esperava que o preço médio ficasse acima de R$ 160. "Foi surpreendente ver uma usina negociar a R$ 131/MWh [menor preço]", disse. Os valores comercializados ontem ficam bem abaixo do preço pago atualmente às eólicas (cerca de R$ 270, nos contratos do Proinfa, programa do governo de fontes renováveis). Nas hidrelétricas, por exemplo, esse valor varia de R$ 70 a R$ 100.
Zimmermann disse crer que a energia eólica já pode participar de pregões regulares, por ter alcançado um preço suficientemente competitivo para disputar com outras fontes. E ressaltou que o setor já tem as vantagens de ICMS reduzido (que deve ser prorrogado, em janeiro), de PIS/Cofins suspensos e, desde a semana passada, de IPI zerado para aerogeradores. Segundo Mauricio Tolmasquim, da EPE, o leilão firma a energia a partir do vento como o complemento atraente, do ponto de vista econômico e ambiental, à hídrica.
Em nota, a ABEEólica, associação do setor, disse que o alto deságio "surpreendeu". Para ela, os investimentos que deverão ser realizados para viabilizar a geração da energia eólica comercializada no leilão de ontem serão de R$ 8 bilhões. Segundo a EPE, esse montante será maior: R$ 9,4 bilhões.
Entre as empresas vencedoras, a mais bem-sucedida foi a Renova Energia: sozinha, comercializou cerca de 17% do volume médio comprado. A companhia, com foco em energia alternativa, é formada pelo fundo InfraBrasil, administrado pelo Banco Real, e por outros dois empreendedores. "No final, acabaram prevalecendo os projetos mais competitivos, com maior fator de capacidade [o que é de fato gerado, a partir do potencial instalado] e maior escala", diz Vasco Barcellos, presidente da empresa.
Hubner disse que alguns projetos com alto fator de capacidade não conseguiram vender energia, o que aumenta a expectativa para os próximos leilões. "Esperamos que, com a escala, continue esse processo de otimização dos custos, de forma que a eólica venha a ter uma participação crescente na nossa matriz", disse Zimmermann. Hoje, é 0,53% do total.
(Por Natália Paiva, Folha de S. Paulo, 15/12/2009)