Para presidenciáveis do PSDB e do PV, Brasil deveria dar US$ 1 bi ao programa. Pré-candidata petista, ministra da Casa Civil diz que valor "não faz nem cosquinha" e que é preciso evitar "propostas fáceis"
Dividindo o mesmo teto em Copenhague, três dos pré-candidatos ao Planalto em 2010 transformaram o impasse nas negociações do clima numa prévia da disputa eleitoral. Em coro, o governador José Serra (PSDB-SP) e a senadora Marina Silva (PV-AC) defenderam que o Brasil contribuísse com US$ 1 bilhão para um fundo de combate à mudança climática.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) reagiu: "US$ 1 bilhão não faz nem cosquinha". Para a chefe da delegação brasileira na conferência, uma eventual contribuição do Brasil a um fundo global não ajudaria a promover acordo em Copenhague. "O que acho complicado é que a gente faça só gesto", disse. "Não vamos cair em propostas fáceis e pura e simplesmente mercadológicas, estamos tratando de coisa séria."
Por pouco, Dilma Rousseff não passou parte da tarde lado a lado com Serra e Marina numa sala pequena e lotada da delegação brasileira. A ministra mandou o colega Carlos Minc (Meio Ambiente) substituí-la em evento promovido por empresários antes mesmo de ficar presa em reuniões com outros negociadores da conferência do clima. "Não tinha problema", disse mais tarde sobre o encontro que quase aconteceu.
A senadora Marina Silva apareceu por acaso ao evento no qual Serra era convidado e voltou a defender que o país contribuísse com US$ 1 bilhão para uma "cesta" destinada a financiar ações de adaptação às mudanças climáticas. "Os países emergentes devem fazer aportes porque são grandes emissores também", avaliou Marina.
José Serra propôs em seguida algo semelhante: a contribuição de US$ 1 bilhão em dez anos a um fundo global. "Para os países desenvolvidos, é uma quantia modesta; para o Brasil, é uma quantia significativa." Marina Silva desconversou sobre uma competição entre os candidatos ao Planalto pela bandeira do desenvolvimento sustentável, apesar da semelhança do discurso em Copenhague: "Não é uma questão de competir, é questão de persistir". Já Serra se recusou a responder qual pré-candidato seria mais comprometido em combater a mudança climática.
Em conferência à noite, Dilma Rousseff cometeu um ato falho. Antes de defender enfaticamente investimentos no meio ambiente, disse: "O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável". Em suas falas na conferência do clima, Marina destacou a contribuição no combate ao desmatamento e na pressão para que o governo fixasse metas oficiais de corte de emissões.
Serra também chamou a atenção para o corte de 20% nas emissões de gases de efeito estufa em São Paulo, anunciado recentemente e classificado pelo governador ontem como "o principal programa climático do hemisfério sul". O percentual é pouco inferior ao do compromisso "voluntário" definido pelo governo brasileiro, se comparado com base nas emissões registradas em 2005.
Dilma Rousseff entende que cabe aos países desenvolvidos, responsáveis pela maior parcela dos gases acumulados na atmosfera, definir primeiro com quanto contribuirão para o fundo global. "Quem puder dar sua contribuição voluntária dará. Agora, me desculpa, não é US$ 1 bilhão de dólares."
(Por Marta Salomon*, Folha de S. Paulo, 15/12/2009)
* A repórter MARTA SALOMON viaja a convite da CNA.