Nos últimos anos tanto o MST quanto a Via Campesina do Brasil têm sido sistematicamente acusados de perder seu foco, ao realizarem ações contra o agronegócio e suas transnacionais, como a Aracruz, a Syngenta, a Monsanto, e contra outras grandes corporações, como a Vale. Atendendo ao conclame da direita, diversos colunistas teceram as mais diversas teses sobre a suposta confusão dos movimentos populares camponeses do Brasil.
Entretanto, a verdade é que as lutas de enfrentamento que se iniciaram foram reações organizadas a um avanço voraz do capitalismo no campo. Vestido com as roupas do desenvolvimento sustentável, do capital nacional, do progresso técnico e da geração de emprego, o mesmo lobo devorador do meio ambiente, dos braços e das mentes dos seres humanos vem violentamente expandindo seu território.
É assustador verificar que esta mesma realidade não somente está em nosso país, mas em todos os continentes do mundo. Em Copenhague, sucessivos depoimentos de indígenas, camponeses, ONGs e pesquisadores evidenciam que o agronegócio e seus monocultivos invadem os territórios dos povos, trazendo sempre os mesmos impactos: expulsão de comunidades inteiras - muitas vezes com assassinato de lideranças -, destruição dos recursos naturais e da biodiversidade, produção de mercadoria para a exportação, concentração de renda, dentre tantas outras mazelas.
As fotografias - sejam da África, da América Latina ou da Ásia - retratam o mesmo cenário: pequenos vilarejos sendo engolidos, gradualmente, por uma interminável onda monocromática. “A manta verde da morte”, como sabiamente denominou Owen Ndidi, da Timberwatch Coalition Sudafrica, “avança sobre a África do Sul e vários outros países de nosso continente, levando à destruição e ao saque de nossas riquezas”.
Segundo relato de lideranças do Timor Leste, o governo brasileiro está tentando implementar a monocultura de cana no país. “Em 2008 conseguimos parar o programa de produção de cana-de-açúcar, pois nosso povo está com medo dos impactos desse ‘progresso’. Entretanto, a pressão é muito grande para que ele seja implementado sem consulta às comunidades”, diz Ines Soares, do Instituto Timor Leste de Monitoramento e Análise do desenvolvimento.
Muitas são as faces desta “manta verde da morte”, tais como a soja, a cana-de-açúcar, o eucalipto, a palma africana. As espécies, em verdade, não importam. São escravizadas para satisfazer um único objetivo: a desenfreada necessidade de acumulação capitalista.
No entanto, a luta da Via Campesina, dita fora de foco pela elite brasileira, ecoa pelo mundo. Os povos das florestas, das montanhas, dos desertos, das planícies e dos litorais insistem em enfrentar o avanço capitalista. As mais diversas formas de luta eclodem em todo o globo, trazendo esperança, resistência e conquistas significativas para milhões de pessoas.
No Clima Fórum, espaço paralelo à COP 15 construído por movimentos sociais e diversas outras organizações, essas lutas estão encontrando um importante espaço de intercâmbio. O processo de construção de unidade iniciado pela Via Campesina Internacional vem sendo inspirador para esse momento de coalização mundial.
Está mais claro do que nunca que o MST não perdeu seu foco. Pelo contrário, permanece extremamente fiel aos seus princípios e objetivos, e em sintonia com os povos de todo o mundo. A luta dos povos tem uma resposta à globalização capitalista: Globalizemos a Luta, Globalizemos a Esperança!
(Por Luiz Zarref*, MST, 14/12/2009)
*Luiz Zarref é engenheiro florestal e integrante da Via Campesina